Encontraram-se, ocasionalmente, quando foram atraídos pela
paisagem crepuscular que só aquele lugar proporcionava.
Compartilharam o mesmo banco, mas nenhuma palavra.
E assim transcorreram
vários momentos de contemplação e êxtase, imersos no silêncio possível àquela
distância do centro metropolitano.
Quando se levantaram o único contato de despedida foi o
olhar, e, ainda assim resolveram-se secretamente, pelo prazer da quietude e
respeito de um ao outro, que visitariam novamente aquele particular pôr do sol
sendo passíveis de outro encontro!
Retornaram semana seguinte, e noutras tantas que isso se
configurou costume e hábito por uns 35 anos ininterruptos!
Num dia, em que o céu havia mesclado as tonalidades rosáceas
aos azuis violetas e brancos, e as composições densas de cúmulos, a suavidade
esparsa dos cirros tornara em maravilha o que os olhos podiam se deleitar, o
primeiro se admirou e comentou de seu deslumbre com o segundo quebrando o
protocolo!
Houve tão grande discussão que o espetáculo e ambiente
perderam seu significado!
Nunca mais se visitaram; nunca mais se viram depois que se
falaram!
Anderson Dias Cardoso.
Um comentário:
Pode-se dividir tranquilamente o silêncio, mas nunca palavras. Dividi por muito tempo teto, água, comida, chuveiro e sanitário, sem uma palavra se quer, daí um dia o silêncio estava tão pesado que falei. Mudei de casa, mudei de mim, mudei de vida. Ainda está bagunçada, mas eu acho que logo se ajeita.
Voltei pra te visitar e aproveitar pra desabafar, seu texto permitiu.
Abraço!
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