quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Orgulho!

E se houveram outros ambulantes; de histórias tristes e apelos persuasivos a partilharmos de suas misérias todos nós os ignorávamos, como peças conhecidas de dramas hiperbólicos e olhos secos.
O espaço exíguo se assomava às irritações do dia trabalhado e qualquer mentira era pouco tolerada.
Muitas moedas saltavam dos bolsos, mas estas compravam sossego ao invés de piedade; e eu, versado  em comércios simbólicos me atirava(através de meus olhos) para fora do ônibus acompanhando uma ou outra vida até que se desfizesse nos mistérios de seus próprios caminhos.
Ele entrou, assim como todos outros, dizendo de suas dificuldades e filhos, e do seu monólogo eu nem notei sua pena, ou dei crédito ao seu discurso...
O coração já doía pouco quando era requisitado,mas quando me deixou o envelope com adesivos e caneta perfumada para que lhe ajudasse no orçamento me constrangi com a coação e saquei a carteira para ver do que dispunha.
O dinheiro não chegou ao preço então depositei a moeda graúda junto ao que me havia ofertado, e devolvi o pacotinho, com o rosto virado, esperando recuperar meu relativo silêncio.
A voz que respondeu veio agressiva, e o que foi recebido o foi com pouca educação:
-Eu não quero nada de graça!-O homem rasgou o lacre do conjunto e me entregou a caneta, partindo para novas vendas.
Não me lembro de me orgulhar tanto de alguém à quem não conheci!


Anderson Dias Cardoso.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Frágeis Existências 12°Capítulo.

 Ao terceiro dia, quando o sol havia se alteado de todo em seus limites uma das brisas,das raras que acometiam aquele lugar trouxeram consigo dos campos mais afastados o cheiro forte, e incômodo de putrefação.
Se dos humanos, os primeiros à conferirem as estranhas alterações de rotina foram os rapinantes; (assim sempre, e em todos os povos!) logo se escandalizaram com a composição de um cenário onde, ao centro de uma imensa clareira jazia uma fogueira da altura de ao menos cinco homens graúdos em pé; mas, que ainda assim não havia conseguido consumir a enorme quantidade de corpos que lha haviam sido atirados, então, outros tantos se espalhavam, perfurados, esmagados, mutilados, em posições em que só os corpos mortos conseguem se manter.
O costume de reunião de cultuadores dos deuses esquecidos naquela região miserável havia permanecido, discreta aos olhos, mas no conhecimento de todos.
Seus preceitos nunca acrescentaram, ou abstraíram qualquer dos daquela comunidade de um convívio ao menos normal, então eram toleradas, ainda que com certo desprezo, pelos que não sentiam necessidade de apegos espirituais.
O cheiro forte, e o aspecto assustador do local tiveram logo suas impressões apagadas pela cobiça, e todos os oito que haviam chegado naquele conheciam seus costume e, um passo rápido à frente e logo estavam sobre algum cadáver.
Moku, homem de 30 ciclos, envelhecido pelo sol, cavou bolsos e encontrou algumas peças antes de ser o primeiro à dizer algo.
-A maldade de alguns acaba por favorecer estes pobres, não acha Hoil!?
-Não sei... Só encontro corpos mais miseráveis do que eu!Não tenho sorte em empreitadas como esta... E então  Gujivi, algum vizinho que se aproveite?
-A senhora Duzian teve sua cabeça moída e se não encontro tesouros ou peças ao menos tive a satisfação de saber que ninguém tão curioso me será por vizinhança!
- As camisas do jovem Fijh merecem meu corpo!O que são manchinhas de sangue se a tessitura é tão vistosa!
-Somente peças pequenas Tuned, seu imbecil!Quer que nos tomem por assassinos de todos estes miseráveis!
-Quem o tomou por autoridade sobre nós Ertbaum?Ainda tenho uma faca afiada, e vigor para forçar lhe as tripas para fora do tronco!
Todos se riram da afronta do homem pequeno e velho.
-Se riem!???Que desaforo!Saibam que já matei alguns homens!
-Diga-me um nome- Caçoou Ertbaum.
-Zasdoip... -retrucou Tuned, com voz engasgada.
-Ah, sim! Desculpe-me!-Ertbaum segurou o riso, pelo pouco respeito que tinha pelo homem; todos os outros, não.
-Acho que também mataria alguém que se deitasse com minha mulher... Mesmo que ela quisesse!- Disse Augot, examinando uma lâmina fina de prata trabalhada em um pingente delicado- Mas este não foi seu caso, não?
O velho lhe atirou uma pedra à boca, rachando o lábio superior, mas não houve qualquer retribuição agressiva ao agravo; antes pensou que cada vez que o homenzinho traído tivesse seus olhos na futura cicatriz se lembraria da humilhação e risos.
Enquanto a faca serrava os últimos tendões dos dedos enfeitados da morta Adrid, arrancando uma das pequenas jóias douradas, Hoil estremeceu.
-Andemos mais depressa, o Estado já enforca menininhas por famílias que tentam se ir, imaginem se nos encontram espoliando seus cadáveres?
O restante da busca esteve um silêncio incômodo, e pouco mais foi acrescido ao pouco que havia sido encontrado; as mãos estavam carregadas, antes, de resíduos densos e excreções das carnes e as vestes se impregnavam com sua imundícia fétida.
-Moku...?
-O que é Qinv- O leve susto da pergunta o irritou ao extremo- Fale logo o que quer, pois já encontrei o que vim buscar; estou cansado e imundo, hoje não escapo à um banho então diga logo, antes que me aborreça ainda mais contigo!
-Muitos corpos...
-Hum...
-Os campos periféricos estão se tornando em deserto, e nenhuma fera faminta descobriu estes mortos!
-Croc!
Croc!Croc!
Então, um à um, tantos corvos aterrisaram em toda galhada ressequida.

Continua...
Anderson Dias Cardoso.
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