sábado, 29 de janeiro de 2011

O Maior Anão do Mundo!

Selecionei uma, entre tantas salas de bate-papo, das não tão populosas pois multidões;
mesmo virtuais, me incomodam.
Digitei aquele nick e procurei por parceiros de prosa mas uns tipos pareciam invisíveis, enquanto outros gritavam e se faziam ouvir; e eu, "O Maior Anão do Mundo" dizia "olás" sem resposta até que a piedade me trouxe uma conversa morna que buscava o básico, sem intimidade.
Um preenchimento de prontuário para um doente social.
E eu disse do nome de minha mãe, minha ocupação, e os livros que li, e a pergunta tabu
veio embutida em uma dúzia de questões, disfarçando se de indiferença:
-Qual é mesmo sua altura?
Demorei pouco para responder; pensando se daria fim ao meu chiste, e à ignorância da
interlocutora:
-1,75.
A resposta arrancou uma interjeição e aqueceu a conversa; e novas linhas revelaram uma
vergonha do próprio preconceito:
-Mas disse que era anão!
-Sim, "O Maior Anão do Mundo"! Tão grande que minha deficiência escapa aos olhos pouco atentos!
Eu ri um pouco, mas logo uma pequena tristeza me tocou o coração, e eu pensei nas
possibilidades dessa realidade:
Ser homem pequeno;
E uma enorme solidão.

Anderson Dias Cardoso. 

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O Mágico?

Na infância, quando o parque era um lugar mágico, e o meu contato com o dinheiro se
resumia às coleções de poucas moedas me encontrei entre duas surpresas:Um passeio no
primeiro, e um pouco mais do segundo!
Naquele dia minha mãe deitou uma nota nova em minha mão estendida; eram cinco mil cruzeiros; uma
pequena fortuna para um garoto pobre; um tesouro a ser preservado por algumas semanas!
O passeio;  gostoso nos moldes proletariado, com ônibus, catraca, balas e balanços, num
parque que se dividia entre os novos brinquedos elétricos, que se agitavam velozes
brilhando suas luzes,  arrancando sorrisos e enchendo os peitos de singelas alegrias; e os tradicionais, tanto lúdicos quanto possível, um paraíso de altos e baixos de
gangorras, travessias de pontes e balanços de pneu!
E entre gritos, e sorrisos a energia quase infinita de meu corpo infantil se dissipava, gasta em traquinagens, e no fim da tarde a cantina exalou seus cheiros e fomos atraídos para o balcão das delícias,
das quais pedi um cachorro quente e logo saquei (confesso que com uma certa pena) aquela
nota nova e a estendi, pagando meu consumo.
Minha mãe se comoveu, recuou minha mão e acertou minha conta e minha alegria foi
completa; guardei meu tesouro no bolso limpei os lábios, vermelhos de ketchup, embolei o
guardanapo e, ainda sem nenhuma noção ecológica o atirei no canteiro verdíssimo!
No meu retorno uma verborragia entusiasmada desenhou meu passeio à imaginação dos que
não me acompanharam, e me emocionava descrever os brinquedos, sentimentos, e as cores do
dia, e no ápice do meu delírio arranquei orgulhoso minha nota de cinco mil cruzeiros, a
qual minha mãe me impedira de gastar, e a chacoalhei orgulhoso, então, surpreso notei que
a cédula havia se transformado naquele guardanapo sujo de ketchup...


Anderson Dias Cardoso. 

domingo, 23 de janeiro de 2011

A fuga.

O que se querer?
Amores que passam sejam eternos?
Felicidade, excessão da vida seja regra?
Dores anestesiadas; sofrimentos suprimidos?
Carne de bronze,coração de aço!
Cale o mundo dissonante, pare o tempo, deporte o medo e me crie uma nova vida;
De ouvidos surdos à mentira e olhos esquecidos da maldade!
Coração de carne, corpo de luz!
Ser completo e doador, reconhecendo e ofertando amor que morre a cada dia em outras vidas.
Modelo de Deus!
Perdoa a insolência!!!Não almejo trono, sou apenas verme!
Pequeno enlouquecido pelas intempéries, crueldades, e vazios existenciais...
Corpo ferido, coração vazio...

Anderson Dias Cardoso. 

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