Pediu férias.
Estava de fato exausto, triste, desanimado!
Encerrou o
expediente alguns minutos além de sua hora, lavou o rosto, apanhou sua mochila
e foi esperar a demorada condução.
A partir dali
tinha tudo planejado!
Entrou sem
ruído na casa, trancou os portões e se alegrou por ter escolhido não adotar
nenhum pet. Conferiu as compras, não notando alguma falta. Havia antecipado
toda vontade para aquele mês, segundo suas manias e carências.
Estava bem de
remédios, as contas haviam sido pagas previamente, e cada parente e amigo
avisado da viagem programada para aqueles dias. Estaria incomunicável naquela
cidadezinha interiorana de nome obscuro, salvo alguma atualização na rede
social da moda, num provável quiosque de conexão via satélite.
Disse que
levaria o celular em substituição improvisada da câmera de boa resolução, mas,
que não esperassem chamadas, pois já o avisaram que a região montanhosa impedia
sinal.
Tomou o
costumeiro banho demorado, se deixou ficar vestido exclusivamente com uma boxer
nova e pôs se a terminar de manipular as imagens da sua presumida viagem em
fotos muito granuladas, repassando o roteiro de eventos e itinerários fictícios
e detalhados de cada dia.
Riu-se de sua
estranheza, mas o que podia fazer senão esconder sua misantropia, seu gosto
pelo silêncio e solidão, com uma representação simpática de férias normais.
O mundo ao
menos devia parecer um lugar normal, e esta seria sua contribuição.
Fazia um
bonito dia lá fora, mas ele cerrou as persianas para não despertar suspeitas!
Aqueles seriam momentos
inesquecíveis!
Anderson Dias Cardoso.