quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
Frustração...
Hoje fiquei imaginando o seguinte diálogo entre Sócrates, e algum contemporâneo nosso qualquer:
-Tudo o que sei é que nada sei!
-Isso é muito relativo!
-Gente, cadê minha cicuta?
The End.
domingo, 9 de fevereiro de 2014
A Solidão Que Antecede à...
Outro terremoto e as linhas foram novamente congestionados. Pedi
um copo d’água; me trouxeram um descartável, mas a garganta continuava seca, e as
palavras a escalavam junto ao choro e os
soluços!
A garotinha havia sacado dum qualquer morto o celular, disse
que discou umas oito vezes até respondermos. Descreveu sua referência, no epicentro
da catástrofe, e, pelas informações do andar em que se encontrava durante a
queda, e, por tudo que lhe veio sobre o corpo, era bem provável que se
encontrasse muito além de qualquer tentativa de resgate!
A voz arranhada insistia que o ar que respirava se tornara
subitamente quente, e opressivo. Sua atmosfera se saturava de um pó fino, e na
boca experimentava um gosto de sangue vindo de não sabia onde. Ela gritava
muito, no início, e eu tentei acalmá-la dizendo que o socorro já estava pronto,
e a caminho. Era apenas uma criança!
Perguntei se aquele espaço lhe permitia movimentos, e ela
respondeu positivamente; então pedi que experimentasse seu corpo para notar se
houvera fratura, mas ela disse que senti-a se inteira.
-A bateria... ela está se acabando...onde estão vocês...eu
estou com medo...
Consultava as listas para resgate, os leitos de hospitais,
mas as equipes haviam sido desviadas para as regiões periféricas, onde as
construções mais rasteiras e densamente povoadas certamente haveriam de ter
poupado mais vidas. Tentei chamar uma viatura amiga, mas suas ordens não a
permitiram me socorrer; e eu ainda respondia e acalmava aquela pequena alma.
Disse que suas narinas sangravam um pouco, e o peito doía. Tentou
engatinhar para um lugar onde haviam portas e corredores, e encontrou pedras
amontoadas. Arrancou uma, duas, três, mas o ar rarefeito lhe fazia pesar tanto
os braços. Sentou-se, chorou comprimindo o telefone entre os dedinhos, e pediu
novamente socorro.Este apitava a falta de carga, e ameaçava desligar.
Ela sabia que morreria, e eu também; mas consentimos em
manter esse pequeno teatro, em favor da sanidade e dignidade. Conversamos ainda
uns oito minutos, até que nos desligamos contra nossa vontade.
Fui ao banheiro, chorei bastante, mas voltei logo. Haviam
outras pessoas necessitando serem iludidas.
Anderson Dias Cardoso.
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