Não que fosse bom ator... Melhor dizendo; nem era daqueles
medianos, possíveis em papéis não tão notáveis, mas que ainda podiam se
realizar em alguns secundários, mesmo que para isso fosse sempre previsível uma
triste jornada dupla!
Se, porém, não fora um daqueles beijado pelas musas, e nem
conseguisse emular tantas emoções quanto lhe pedia o cardápio teatral, contudo
contava com uma peculiaridade interessante que o transformava, em ocasiões e
com tipos determinados, num interessante espetáculo de atuação:
Era hipocondríaco, ainda que ninguém o soubesse!
Quando necessitavam alguém problemático, convalescente, debilitado,
doente, ou moribundo, já o assinalavam em suas listas como um sucesso certo, e
uma atuação brilhante!
O homem, por sua vez, só necessitava se esmerar nas cenas
que antecediam sua tragédia; e, se por ventura sua atuação estivesse aquém da
peça era só disfarçar e abrir um livro de patologias e ler um de seus retalhos
para sentir que sua vida agora estava por um fio!
E ele se contorcia, suava, gemia, suspirava; isso com a
estampa perfeita ao que pedia o papel!
A doença ia bem, e fazia bem, até que lhe ofereceram um
personagem enfermo que logo passaria a finado por conta de uma doença
desconhecida; e ele, dedicado que era, preparou um lembrete com os sintomas da
primeira, e um segundo para imitar por catalepsia aquela morte!
Findando o assunto, o homem morreu tão bem que foi enterrado
vivo; como o coroamento de seu excelente trabalho!
Anderson Dias Cardoso.