quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Finos Pratos...


Era notado sempre pela bolsa envernizada de aparência cara que portava em um abraço íntimo; e seu tratamento quanto à compra, polidamente amargoso.
Quando seu andar ligeiro marcava com compasso claudicante e barulhento o sossego da vaidosa cerâmica alvejada, havia sempre pressa mal intencionada dos bajuladores de endinheirados em apresentar boa vontade!
A confeitaria era a mais cara, e as aquisições do carrancudo sempre pediam muitos braços, dos quais sempre eram obrigados a serem acompanhados por sorriso
Uma mão habilidosa abria o fecho, sacava o dinheiro plástico e digitava a senha, a outra sustentava resignada a peça trabalhada que guardava-lhe os misteriosos pertences!
Havia carro designado à específica entrega; ao menos dois dos melhores funcionários postavam na imensa mesa do cliente o peso das tortas, quitutes, e finezas culinárias; e, ao esperar a multidão de degustadores só havia um homem de branco que os assistira à porta, para lhes atiçar as curiosidades!
Quando deixaram a propriedade só houve movimento do que comprou; e o passo angustiado do homem o levou ao banquete!
Desatou da bolsa o recipiente de colostomia, atou o encaixe dolorido da sonda; sentou-se tomando prato à prato e sorveu apaixonado o cheiro daqueles sabores!
O mordomo-enfermeiro já entrou em contrato ciente:
“-A comida fica exposta até se desfazer meu interesse, logo após deve ir ao lixo!”
Era ódio patético à sua condição, era inveja e desprezo aos que podiam comer.

Anderson Dias Cardoso.

domingo, 2 de setembro de 2012

Escrevente.


Era daqueles escritores habilidosos que tratavam bem suas melancolias; bom sabedor dos artifícios de sublimação de seus dissabores em literatura ao menos razoável.
E quando, às vezes a mente lhe negasse o verbo o dedo somatizava pauta e parágrafo, com saltos hesitantes e espaços exagerados!
Era quase sadismo revertido à fonte!
Uma compressão espasmódica de dores próprias para um tenso jorro literário!
Da felicidade sabia um tanto, porém não comunicava nada!
Era sentimento inda mais solitário; era plenitude por si só!
Da felicidade não diria nada, bastava egoístamente senti-la!

Anderson Dias Cardoso.
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