Era notado sempre pela bolsa envernizada de aparência cara
que portava em um abraço íntimo; e seu tratamento quanto à compra, polidamente
amargoso.
Quando seu andar ligeiro marcava com compasso claudicante e
barulhento o sossego da vaidosa cerâmica alvejada, havia sempre pressa mal
intencionada dos bajuladores de endinheirados em apresentar boa vontade!
A confeitaria era a mais cara, e as aquisições do carrancudo
sempre pediam muitos braços, dos quais sempre eram obrigados a serem
acompanhados por sorriso
Uma mão habilidosa abria o fecho, sacava o dinheiro plástico
e digitava a senha, a outra sustentava resignada a peça trabalhada que
guardava-lhe os misteriosos pertences!
Havia carro designado à específica entrega; ao menos dois
dos melhores funcionários postavam na imensa mesa do cliente o peso das tortas,
quitutes, e finezas culinárias; e, ao esperar a multidão de degustadores só
havia um homem de branco que os assistira à porta, para lhes atiçar as
curiosidades!
Quando deixaram a propriedade só houve movimento do que
comprou; e o passo angustiado do homem o levou ao banquete!
Desatou da bolsa o recipiente de colostomia, atou o encaixe
dolorido da sonda; sentou-se tomando prato à prato e sorveu apaixonado o cheiro
daqueles sabores!
O mordomo-enfermeiro já entrou em contrato ciente:
“-A comida fica exposta até se desfazer meu interesse, logo
após deve ir ao lixo!”
Era ódio patético à sua condição, era inveja e desprezo aos
que podiam comer.
Anderson Dias Cardoso.