sábado, 13 de outubro de 2012

Os Negócios Do Rei.


Natur luziu seu ouro para despertar os ânimos de voluntários para vingar-se da tribo oposta e disse que a quantia fixa, mais do que suficiente, se fracionaria entre todos que restassem do embate!
A multidão se apressou em se apossar de todo possível afeto presente para se libertar das culpas e saudades, e então, com a empunhadura das armas, a alma pôde se tornar em bronze.
Quando a madrugada se afastou já estavam nas planuras distantes dos campos propícios à morte!
E para lá se foi à mesma; colhendo da seara os espíritos moídos, que pouco à pouco eram coagidos para fora de seu simulacro; e quando seu grande número desfez o inimigo, a cobiça os voltou contra suas próprias forças.
No palácio a espera real contava uns poucos restantes; mas o imprevisto trouxe somente o solitário!
A guarda relaxou suas armas, e o homem de guerra desfilou na curta estrada que levava ao trono.
O homem se prostrou em ensaiada vênia, e o rei o ergueu sob a leveza das finas palmas:
-Onde estão teus irmãos?
-Foram mortos pelo inimigo, e por suas próprias mãos!
-Se a fortuna atraiçoeirou tantos corações temo que a tal lhe faça mal à alma; mas tome lá teu grande bocado, e parta para gozar a vida!
O abraço do rei conduzia à arca quando a mão do guerreiro se adiantou ao discreto movimento de capa do monarca.
E o corpo pesado do homem precipitou eviscerado diante de quem havia de atraiçoar.
-Ainda morrendo zombo de ti guerreiro!Meu ventre aberto e tua cabeça no cepo.
E quanto ao ouro em quem confiava, nem meu nem teu...



Anderson Dias Cardoso.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Um Bicho Eu...


Quero repouso para o espírito, e me perdoe meu siso; ele me acompanha desde a meninice!
Não me adiantaram os teus palhaços, piadas e caretas visto que meu mau-humor é hereditário, e o riso é como feriado... Vez em quando.
Não me peçam para mostrar-lhes os dentes, não me venham coagir com cócegas, pois toda alegria forçada é espasmo não verídico; e se tem estima pela minha presença, respeitem também meu silêncio!
Sou bicho remoente de pesos que me lançam; e ainda por despeito, abraço por mim mesmo outros encargos!
Miro-me amargoso em tuas falhas, enquanto averiguo as minhas; critico teus procederes enquanto me culpo pelos meus; reparo tuas invejas, as preferindo à minha indiferença!
Sou bicho angustiado, e não se engane; quando sorrio, minto!

Anderson Dias Cardoso.

domingo, 7 de outubro de 2012

Ironias...


Se o corpo era mau-cheiroso, carente de asseio, os dentes eram amarelecidos pelo sarro, alguns bem carcomidos, e o inchaço das gengivas inflamadas apresentavam uma vermelhidão incomum, que era acessória visual ao hálito nauseabundo que escapava em qualquer sorriso!
Dos fios; muitos se ajuntavam, ligados pelas secreções sebáceas não higienizadas e alguma fineza de detritos trazidos pela frescura dos tão comuns ventos da região.
As unhas eram brocadas, os olhos, remelentos e quando estendia a mão para coletar o produto da piedade alheia enxugava sem pejo o persistente ranho!
E o povo mirava sempre, e se espantava com as intenções do magro corpo bamboleante quando se erguia findando o expediente!
Voltava ao barraco miserável sempre envergando vestido novo; cópia bem cara do que ditava a novela!
E era assim que se sentia parte da alegria encenada da mídia...
E era assim que comprara seu respeito. 


Anderson Dias Cardoso.
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