sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Eclipse Galinhas e a Ortodoxia.

Dia ordinário, mormacento, e todos exércitos galináceos já haviam despertado pelo cantar
firme de seus galos e iam novamente se encaixando nas estruturas naturais do
galinheiro.
Houveram cópulas, disputas, posturas, muita ração e minhocas arrancadas da
terra fofa e o dia já alcançava a décima hora da manhã com todos seus tumultos; foi então
que a lua, em todo seu atrevimento começou a devorar o sol, movendo-se sobre ele.
O mundo se maravilhou e os óculos escuros e chapas de radiografia faziam visíveis o
devorador e o fagocitado, e aquela escuridão parecia diferente aos espectadores; quase
mística, e ela furtava não só toda a luminosidade mas também as atenções!E novos deuses nasceram daquele fenômeno,e ressurgiram outros tantos: sumérios, babilônios, incas...deuses astrais acrescidos ao panteão de superstiçõe, e o espetáculo da natureza forçou uma interpretação espiritual, uma ação dos astros além de suas competências...
Aquela noite, que caia quase que de improviso sobre o hemisfério sul quebrou o ritmo nas
cidades e campos, e naquele quintal as galinhas foram se acalmando, quase notando a
brevidade daquele dia e foram uma a uma se empoleirando nos galhos da jaboticabeira
cheias de energia porém resignadas à um dia tão curto em uma vida tão curta, aquele meio
dia com contagem de um.
Cada corpo se aconchegava à outro preparando-se para uma possível  noite fria, e os
movimentos diminuíram e o sono começou a ameaçar e pesar sobre os corpos penosos, e os
olhos cerraram findando a consciência de mais um dia...Mas, rápido como a vinda daquela
noite a segunda aurora trouxe seus primeiros raios, e eles foram se adensando até que as
pálpebras não mais pudessem retê-los por completo e o calor trouxe desconforto, e o chão
convidou a bailar entre comida e pó e a granja se alegrou,mas a noite retornou
naquele mesmo dia, não tão de assalto mas com uma suave gradação e um pouco menos confusa
e o novo amanhecer foi comum como todos os outros e na sucessão de amanhãs alguns daquela
geração morreram de peste, outros foram vendidos ao açougue, e novos ovos eclodiram, mas
os céus não lhe foram motivo de espanto, e não houveram profecias ou oráculos ou
interpretações astrais e então Deus viu maior razão nas aves que nos homens...

Anderson Dias Cardoso. 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Verdade à Moda.

Procuro pela verdade desde que se acomode aos meus padrões.
Verdade relativa não absoluta;
Flexível quando necessária, comum e aprazível.
Quero uma verdade "moda", também "projetiva";
Que ao menos abrilhante minha "persona".
Uma verdade Social simbiótica que me ofereça um horizonte,
Um horizonte toldado pelas minhas próprias influências.
Meu zelo mutualista a defenderá de todo panteão de outras verdades e seus hereges;
E reinará me conduzindo à tolice.
Ou me abandonará quando suas estradas estéreis,
Pelo seu vazio me conduzirem à razão.

Anderson Dias Cardoso. 

Sabedoria Etílica.

E meu pai, aquele escravo de Dionísio desrosqueava a garrafa de aguardente regando o interior do copo e nos primeiros goles quem assumia era Apolo e os assuntos ficavam fáceis e o cosmos e todas suas estruturas se descortinavam sem enigmas ao seu entendimento, não como obsoletas profecias  Pítias...
Invertia palavras e criava soluções, e geria com a razão de uma criança os eternos dilemas da humanidade.
Era doutor, não dos convencionais, mas o tipo pajé-xamã-druida, com suas panacéias holistas de gestos e fórmulas.
Quando estadista, era a prosperidade do pobre, o desenvolvimento burguês e a paz da nação.
Quando profeta perscrutava pensamentos, tempo e espaço gozando das intimidades do próprio Deus e ouvindo os sussurros de suas maravilhas...
Tudo isso, esses universos de sapiências num girar de tampa e derramar do líquido.
Uma sapiência de faces afogueadas de olhos sonolentos e passos vacilantes...
Sabedoria etílica...
Razão alcoólica.

Anderson Dias Cardoso. 
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