E meu pai, aquele escravo de Dionísio desrosqueava a garrafa de aguardente regando o interior do copo e nos primeiros goles quem assumia era Apolo e os assuntos ficavam fáceis e o cosmos e todas suas estruturas se descortinavam sem enigmas ao seu entendimento, não como obsoletas profecias Pítias...
Invertia palavras e criava soluções, e geria com a razão de uma criança os eternos dilemas da humanidade.
Era doutor, não dos convencionais, mas o tipo pajé-xamã-druida, com suas panacéias holistas de gestos e fórmulas.
Quando estadista, era a prosperidade do pobre, o desenvolvimento burguês e a paz da nação.
Quando profeta perscrutava pensamentos, tempo e espaço gozando das intimidades do próprio Deus e ouvindo os sussurros de suas maravilhas...
Tudo isso, esses universos de sapiências num girar de tampa e derramar do líquido.
Uma sapiência de faces afogueadas de olhos sonolentos e passos vacilantes...
Sabedoria etílica...
Razão alcoólica.
Anderson Dias Cardoso.
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