Tomava sob os braços diariamente a pesada escada e se ia para um telhado qualquer.
As vizinhanças esperavam sua visita maltrapilha, os portões, apesar dos cuidados, rejeitavam trancas e ele perseguia caminhos diversos à cada dia.
Invadiu uma casa com animais mas, amigo como era, transformou os rosnados em ganidos amistosos e, depois de muita festa passou ao ponto de acesso ao céu do dia,riquíssimo de luzes.
Sempre haviam olhos, e estes, no respeito de sua crença se mantinham disfarçados por cortinas ou arranjos, e ainda que com a fé trocada se benziam em uma rudeza de entendimento.
Dizia-se que Elias fora assunto aos céus em uma carruagem de fogo, deste se esperava a visita de espaçonaves e sondas estrangeiras, e no movimentar do pequeno santo muitos olhos o acompanhavam.
O dia estava característico, a abóbada muito riscada de asteróides e uma lua que afrontava a majestade terrestre, e o homem desceu as ruas de sua predileção para buscar contato.
A casa, arruinada pelo tempo se cobria de telhado frágil, e as passagens até a subida eram interrompidas por plantas daninhas e sons de rastejantes.
Ele se atreveu.
Os caibros cantavam ao seu peso, as ripas envergavam-se um pouco mais e quando encontrava o conforto de um lugar mais plano se entregava à um sono tranqüilo.
Naquele dia se podia tocar estrelas, e muitos assopravam divertidos o hálito de suas bocas e se riam das densidades das figuras que fluíam dos peitos na frieza da madrugada. Era a noite ideal para o rapto nos céus, e eles o esperaram.
A cor e quentura da manhã chegaram tão ligeiras, e com ela os pés antigos desceram do cimo e rumaram para o descanso pleno do outro dia, e pra espera de uma outra vigília negligente.
Subiria outra vez, e outra, e ainda outras tantas em noites igualmente perfeitas, e logo perderia seu misticismo pela rotina de suas esperanças.
Anderson Dias Cardoso.