quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O Homem No Telhado.

Tomava sob os braços diariamente a pesada escada e se ia para um telhado qualquer.
As vizinhanças esperavam sua visita maltrapilha, os portões, apesar dos cuidados, rejeitavam trancas e ele perseguia caminhos diversos à cada dia.
Invadiu uma casa com animais mas, amigo como era, transformou os rosnados em ganidos amistosos e, depois de muita festa passou ao ponto de acesso ao céu do dia,riquíssimo de luzes.
Sempre haviam olhos, e estes, no respeito de sua crença se mantinham disfarçados por cortinas ou arranjos, e ainda que com a fé trocada se benziam em uma rudeza de entendimento.
Dizia-se que Elias fora assunto aos céus em uma carruagem de fogo, deste se esperava a visita de espaçonaves e sondas estrangeiras, e no movimentar do pequeno santo muitos olhos o acompanhavam.
O dia estava característico, a abóbada muito riscada de asteróides e uma lua que afrontava a majestade terrestre, e o homem desceu as ruas de sua predileção para buscar contato.
A casa, arruinada pelo tempo se cobria de telhado frágil, e as passagens até a subida eram interrompidas por plantas daninhas e sons de rastejantes.
Ele se atreveu.
Os caibros cantavam ao seu peso, as ripas envergavam-se um pouco mais e quando encontrava o conforto de um lugar mais plano se entregava à um sono tranqüilo.
Naquele dia se podia tocar estrelas, e muitos assopravam divertidos o hálito de suas bocas e se riam das densidades das figuras que fluíam dos peitos na frieza da madrugada. Era a noite ideal para o rapto nos céus, e eles o esperaram.
A cor e quentura da manhã chegaram tão ligeiras, e com ela os pés antigos desceram do cimo e rumaram para o descanso pleno do outro dia, e pra espera de uma outra vigília negligente.
Subiria outra vez, e outra, e ainda outras tantas em noites igualmente perfeitas, e logo perderia seu misticismo pela rotina de suas esperanças.


Anderson Dias Cardoso.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Lunáticos.

...E o homem continuava seus disparates, segurando a sacolinha encharcada como suor dos pastéis:
-O mundo acabou à três dias, e somos poeira de estrelas vagando pelo vácuo, procurando por zonas gravitacionais intensas para nos reagruparmos e formarmos novas ordens cósmicas.
-Uhum- O “sócio “de poltrona notou que contrariar alterava a harmonia da conversa, e então, pagava pelas considerações com as menores porções de conversa possíveis.
-A entropia disse que chegaria, ninguém acreditou e olha ela operando com seus desarranjos até que tudo se volte à grande massa que ira ser o recomeço de outras realidades muito semelhantes à estas!
-Eu sei! Foi a resposta apática de seu triste adjacente- Sou uma super-nova, não lhe disse!
-Você!!? No máximo, uma nebulosa, ou pulsar!Mas com tamanho desarranjo universal, aposto no segundo!
-Posso ser então um buraco negro, se preferir!
-Olha só! Não lhe disse que me tomava por maluco!?- A entidade cosmopsicodélica se ajeitou em seu lugar, e espremeu nos dedos o embrulho, fazendo brilhar os dedos finos.
-De forma alguma! Apesar de vivos, poucos astros têm consciência perfeita de si mesmo, ou de suas órbitas!
-Discordo, pois conhecia muito bem minhas rotas!
- Eras o sol!
-Não se expresse com tanta voz, não atraiamos a inveja de outras forças... - Segredou o maluco arrancando do pacote um viscoso salgado, e oferecendo o restante ao companheiro de diálogo, que recusou polidamente.
-Nada mais importa; eis que somos um buraco negro à tragar um restinho de matéria de péssimo sabor, e uma suposta nebulosa debatendo em encontro casual à respeito da irrelevância do já consumado destino de todas as existências.
-Aquele não é seu ponto?
-Ah!Muitíssimo obrigado!Quase perco o endereço!
O estranho sol humano desceu do ônibus, e à distancia pareceu muito mais uma banal criatura humana.

Anderson Dias Cardoso.
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