Fugia freqüentemente de casa para visitar, em movimentados
dias de enterro, o cemitério da cidade.
Às vezes a sandália escapava dos pés, e se perdia na poeira
sufocante das ruas não pavimentadas, mas, as solas resistiam bem aos maus tratos
do cascalho, e a precariedade do calçado lhe permitia visitar o destino antes
de se voltar ao esquecido sem que qualquer se apossasse do abandonado.
Naquele dia, chegando junto à procissão dos pranteadores,
acompanhou os movimentos do caixão até a cova escolhida.Se acomodou no
túmulo mais aconchegante, na distância mais cômoda à sua visão um pouco turva!
Foi aí que os ouvidos destros se sensibilizavam para sorver
o choro, e um risinho fino se convulsionou na boca, até que se alteou o pranto.
Então gargalhou em histeria!
Então gargalhou em histeria!
Gargalhou novamente,
urrou, bateu suas palmas e lançou terra ao alto, não poucas vezes, constrangendo
o luto com o seu deboche; então o pai do morto tomou posse de um caibro que se
havia tornado cruz e avançou para esmagar o pequeno crânio do galhofeiro,
enquanto o coral dos ofendidos sussurrava discretos incentivos à violência:
-Por favor!.....Não faça mal ao meu filho!Ele é lunático!- A voz
ofegante custou escapar do peito franzino, e a mulher se interpôs para receber
o golpe desferido!
O som seco denunciou a quebra do membro, a contundência do
golpe fez saltar o osso da carne magra.Ela chorava suas desculpas, mais do que
a dor do corpo!
-A morte do pai o enlouqueceu, e hoje ele vem ao cemitério, dia-a-dia
zombar desta, esperando que ela, envergonhada, se mostre e devolva seu morto...
A ira não pode se sustentar, e o homem se ajoelhou diante da
mãe, e o braço sangrava muito...
Anderson Dias Cardoso.