sábado, 4 de dezembro de 2010

Estética Canina Coerciva.

Não me deram o privilégio do androginismo e de frente todo cão é
igual;sou cão macho,mas isso não importa se o corpo diz que não.
Tenho pelo negro,tenho pelo verde,tenho pelo rosa,só não tenho vontade
própria,sou escultura animal,sou ostentação de criatividade,sou...sou
ridículo!
Parte pelada,parte peluda,friorento tendo um dia tanto pelo;
admiro à muitos,até que perguntam o sexo,e se afastam sem esconder o
deboche!Ah!Fosse eu cão comum,um vira-latas qualquer,sem banho nem
tintura,vivesse de lixo;corresse na chuva sem temer termômetro!Mas sou vítima do sistema,sou obra do gosto...tentando me adaptar;sou a personalidade que não escolhe sua embalagem,sou o cão pós-moderno,imagem desse mundo  sem valores,completamente "despoodlerado"!!!

Anderson Dias Cardoso. 

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Filho do Mercado.

Vende-se uma vida; sem vínculos, sem afetos, mercadoria estocada na prateleira do
 ventre.
Vende-se caro o que não tem preço; (e quem disse que o amor não se compra?)
Produto sem prazo de validade; ovo surpresa, sem direito a devolução;
Vende-se o choro noturno, as dores de ouvido, as confusões da adolescência;
Vende-se a graduação, os preparativos do casório, talvez  a dor da morte;
Num comércio que ata vidas, constrói álbuns de fotos e torce o futuro.
Uma mãe enche os bolsos, a outra o coração, numa troca de absurdos;
A realidade constrange, a sociedade comenta, e essa prole caminha com seus dois valores, tranqüila;
Um valor de mercado,um valor de afetos!!!

Anderson Dias Cardoso. 

domingo, 28 de novembro de 2010

Sophia.

 
Família modesta;pai,mãe e um crioulinha linda que ensaiou seus
primeiros passos aos nove meses,e aos três anos já lia,escrevia,e era
dialeta competente;qualidades que lha conferiram a alcunha de
"Sophia",e era a alegria e esperança da casa.A mãe se incumbia de
lhe ensinar as letras,o pai,do sustento e ambos e da formação cristã.A
inteligência  lhes causava estranheza,e suas perguntas embaraço,e
dos poucos livros que lhe liam, e lhe davam a ler, a Bíblia era o
quotidiano;e ainda se alegravam na sua pobreza,pois deles era o Reino dos
Céus;porém em uma de suas carestia o orçamento os estrangulou,e a
mãe saiu em busca de um emprego,e a creche foi a melhor opção,e o pai
deixou a linda negrinho naquele mar de infantes;recomendou poucas
coisas,e deixou o resto dos sentimentos em um abraço terníssimo e
partiu através do portão descascado.A negrinha,nas estranheza da nova
realidade se consolou com os brinquedos que nunca teve;com os amigos
que nunca conheceu e foi só sorrisos,e brincadeiras de roda;mas uma
mão arrancou um dos elos da cadeia de crianças que giravam,e uns
gritos,impropérios,tapas,e murros espantaram à todos,e aquela
garotinha foi lançada à parede,e seus cabelos arrancados por alguma
desobediência;e aquele vulto,a "mulher-demônio" cobria a garotinha com
sua sombra e violência...foi quando uma voz infantil,com toda a firmeza possível
se alteou sobre todos os gritos dizendo:Qualquer que escandalizar um
destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que lhe pusessem
ao pescoço uma mó de atafona, e que fosse lançado no mar.
E, se a tua mão te escandalizar, corta-a; melhor é para ti entrares na
vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o
fogo que nunca se apaga...Houve um silêncio,e a mão da
"mulher-demônio" largou a garotinha,e o tremor das mãos demonstrou sua
derrota.Deus falou naqueles lábios negros,que mal tinha reparado e a
condenou;e ela correu dali levando seus gritos e algumas lágrimas,e um
tumulto de adultos afluiu para a casa dos brinquedos,e as histórias
foram esclarecidas,e o pequeno anjo de pele negra se encontrou cercado
de sorrisos,e rostos maravilhados,e na vizinhança todos o amaram,e com
o tempo perdoaram aquela mulher bruta,e esqueceram todas suas
maldades,e nela nasceu um novo amor,e então viu que ele  novamente "Ele" veio ao mundo
para resgatar os perdidos;um milagre na boca de uma negrinha
brilhante!!!

Anderson Dias Cardoso. 
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