Era daqueles heróis tradicionais, vindo de outra galáxia,
com poderes sobre-humanos, moralidade ilibada, e outras qualidades que nos
remeteriam aos clichês de hoje em dia.
Havia salvado a terra algumas centenas de vezes, de perigos
de relevância variada, mas ainda assim alguns lhe chegaram a questionar o porquê
de seus esforços serem num campo físico, sendo que a corrupção, e outros tipos
de crimes continuavam ser cometidos mesmo sob seus olhos!
Será que só saberia “bater”?Não leria os jornais?Teria “rabo
preso” com os políticos e empresas?Já ouvira falar que ele era como daqueles
vigilantes motorizados que cobram uma taxa, grudam um adesivo na sua fachada e
disponibilizam o celular para caso haja algum problema... Acredito nisso, já
que quase nunca o vi salvando algum suburbano!
Parece que é judeu!Ouvi falar que até tem El no nome; o que
me faz suspeitar ainda mais do cara, já que a Palestina tá uma bagunça, e ele não
dá as caras por lá pra ajudar a resolver a confusão!...Fico pensando se é circuncidado.
Pessoas à prova de bala devem ter o “couro” bem resistente...
Gosto bastante de teorias da conspiração, sabe?Um vizinho
meu diz que essas batalhas monumentais que ele anda travando com esses inimigos
anabolizados, e que destroem centenas de prédios, são encomendadas por
empreiteiras de uns parentes do governador (há rumores de que o material com
que reconstroem, ou reparam as construções são de segunda linha, e que isso não
importa muito, já que logo-logo elas serão destruídas e reconstruídas de
novo!), e que a gente pode esperar um novo imposto pro próximo ano, dirigido
exclusivamente pra o custeio das consequências dessas “porradarias”...
E, enquanto as pessoas especulavam à respeito da sua vida, o
herói, já muito debilitado por todas as armas e artifícios usados por seu
aqui-inimigo, se arrasta sobre os escombros de um aglomerado atacadista ermo e
desativado, procurando pela cápsula que guarda o dispositivo do “Juízo Final”!
O “homem” se movimentava sentindo os ossos soltos dançando
sob suas carnes, um dos olhos provavelmente nunca mais enxergaria, e não havia
certeza se algum dentista lhe conseguiria lhe implantar os dois incisivos
perdidos numa das explosões, mas isto não importava agora!Estava a alguns
centímetros daquele dispositivo mortífero, de engenharia também alienígena, com
efeitos terríveis, que ele próprio ignorava!
Tomou-o em suas mãos!Era prateado, pequeno como uma caixa de
charutos, e possuía um interruptor no centro com um adesivo em uma língua a
qual reconhecia de sua infância extraterrena: Liga/Desliga; e um display
acusando que havia apenas alguns segundos!
Um som suspeito estalou atrás de si. Ele se virou, e o
monstro de oito metros de altura, pêlos grossos, uma jaqueta de couro de uns
quinze invernos venusianos atrás, cravada com os botons de figuras ilustres as
quais havia assassinado, fechava o punho sobre a cabeça do herói para o
esmagar!
-Relaxa grandão, eu tô de saco cheio disso aqui também!
-Grunf, upk nummaf!-Respondeu a figura terribilíssima!
-Senta aí que falta pouco... -o herói afastou com um
peteleco um pedaço do piso de uns trinta mil quilos do oitavo andar da
administração (ele o sabia por conta daquele porcelanato horrível que havia
notado enquanto fora atirado através das paredes do ambiente, e em uma micro
fração de segundos viu e ponderou sobre o mal gosto do arquiteto que sugerira
aquilo!Além do mais era muito poroso, o que dificultaria demais a higienização!Não
se admirava de o encontrar tão encardido!).
Já acomodados quando estava tudo prestes a ser consumado (o monstro
se utilizou de um cadáver avulso como almofada. Seu ossinho alienígena do cóccix
havia sido danificado durante uma queda em uma de suas incursões noturnas ao
banheiro, por conta de sua incontinência urinária), e então ambos se deram as
mãos.
-Foi bom trabalhar contra você grandão. Vamos dar uma lição
neles!
Woghjaid ashgom lhagutab!-uma lágrima escorreu daqueles olhos
peludos, e tudo mais virou pó!
Anderson Dias Cardoso.