Aconteceu que se encontrava ali, debruçado sobre um imundo e
esfarrapado desconhecido, aplicando pressão ao coração que falia; mas estava a
lhe fazer tão pouco caso!
A boca do semimorto havia provado algum molho rosado, e
agora espumava e, esta mesma escondia atrás de si um débil sorriso!
O primeiro homem insistia na massagem, e seus braços já
tinham articulações cansadas do esforço, em contraponto que o peito enfermo
estalava sob cada violenta arremetida!
-Luta!Luta que esta é tua vida!
Mas era inútil, assim como confessavam os olhos da vítima!
Ele sabia da morte, porém ainda vestia aquele sorriso
estranho, confortado, complacente; e que se foi desvanecendo assim que o ataque
finalizava seu ciclo.
Tremelicou um pouquinho, rangeu de dor os amarelecidos
dentes e partiu.
Então ajudador levantou se de sua derrota, cobriu dignamente
com seu agasalho o defunto e procurou alguma viatura para notificar a morte...
Abandonou o corpo esvaziado aos cuidados do Estado, e o
sorriso enigmático à indiferença, mas este queria lhe dizer tanto!
Quis lhe dizer dos seus infinitos abandonos, e do aconchego
da morte sob os cuidados de um estranho!
Anderson Dias Cardoso.