terça-feira, 29 de março de 2016

O Anúncio do Conto Abaixo.



“Espaço que mal comportaria um, por motivo de solidão e necessidade, hoje pode acolher outro.
Não ofereço uma quitinete, ou mesmo um quarto, antes, um espaço exíguo para guardar o corpo, somente o corpo, e quem sabe alguns sonhos...
Só peço higiene, toda a privacidade que se pode ter em tão pequeno espaço, e amizade.
O modelo da mala a ser compartilhada é uma Youri Spin 78, vermelha (presente usado de um amigo rico), e está situada na seção de Achado e Perdidos da rodoviária São Bartolomeu.
Interessados ligar: XXXXXXXXXX, Falar com Nemo.”






Anderson Dias Cardoso.

Um Pobre Garoto Contorcionista.



Um pobre contorcionista que morava em mala própria, no setor de achados e perdidos da rodoviária de uma obscura cidade no centro do país. Favor gentilmente cedido por um velho guardador de volumes, que também fazia vezes naquela pequena repartição. Coisas de amizade, e caridade.
Acontece que o mancebo flexível, depois de regimes forçados (para não dizer privações), por conta da falta de visita dos circos itinerantes, e outros “bicos” que fazia por ali, resolveu-se por alugar um espaço na mala a outro contorcionista, ou quem quer que se encaixasse no perfil mirrado. Sentia-se meio solitário, e necessitava complementar sua renda.
O anúncio no jornal local foi uma das coisas mais tristes que já li em toda minha vida.






Anderson Dias Cardoso.

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