Decifra-me...

...E então a Esfinge lhe recitou a famosa frase:
-Decifra-me, ou devoro-te.
Ele não era daquelas bandas, e não entendeu muito bem o que aquela estranha senhora dizia, mesmo quando esta insistiu na lingugem de sinais.
Achou que era algum tipo de pedágio, e lhe lançou a única drácma que lhe restava.
Pediu desculpas e seguiu adiante.



Anderson Dias Cardoso.

Vivendo de um só Milagre.

Num dia de ócio retirou a moeda do bolso e pôs se a apostar consigo mesmo num solitário cara-ou-coroa.
Lançou-a uma dúzia de vezes até que numa dessas o sol lhe refletiu cor diferente.
Tomou-a em suas mãos, mediu, pesou, cheirou, e mordeu.Aparentemente o aço havia se tornado em ouro!
Correu, contou aos familiares o milagre, e foi notícia na cidade o mês inteiro. Então, passado a euforia dos conterrâneos, vendeu a peça a um estrangeiro endinheirado, por um preço justo.
Agora, depois de tantos anos, o tal continua naquele mesmo lugar.
Sujo, roupas rotas e cabelos emaranhados; revira seu pote de moedas, as experimentando num lance que poderia voltar a repetir a transformação.Os familiares dizem que o pobre homem endoideceu.



Anderson Dias Cardoso.

A Aposentadoria do Faquir.

-Na verdade eu admiro sua profissão!Nunca encontrei um faquir tão corajoso, que engolisse espadas com desenhos tão sinuosos!
-O que é isso, meu amigo!É uma profissão como todas as outras!Motoristas de ônibus, por exemplo, tem uma carreira muito mais arriscada!
-Se bem que o que me surpreende não é bem o uso das espadas. Infecções são muito freqüentes em pessoas que levam tanta coisa à boca!Admira-me que ainda esteja com saúde!
-Ah!Mas eis que tenho um ajudante muito prestativo!Ele me esteriliza uma a uma, e ainda passa-lhes uma flanela para lhe dar aquele brilho!
-Não queria ser indelicado, mas teu assistente é aquele mancebo que coça incessantemente “as partes”?Já ouvi “boatearem” por aí que o moço não é lá muito higiênico consigo, e aquele trapo ali já não vê água há uns bons dias. Dizem que o utiliza nuns serviços bem desagradáveis!
-Acaso tens alguma vaga no teu escritório?Tenho o “médio” em contabilidade!




Anderson Dias Cardoso.

A Árvore da Discórdia.

Ganhara uma semente de um qualquer doido, em troca de uns trocados para a aguardente. O maluco dizia que era mágica, porém, como era homem direito, e não possuía legalmente um palmo de terra para a deitar, decidiu retribuir a gentileza do passante caridoso com aquela maravilha. Era tudo o que podia fazer.
O homem plantou, e eis que ao invés de folhas, lhe nasceram cédulas!Não conhecia daquele dinheiro, mas a tal internet dizia ser libra.
Colheu uma nota graúda de um braço avulso, e foi fazer a feira. Quando voltou o governo já havia chegado, e partido!Confiscou a rica planta, mas lhe deixou uma indenização em reais que não lhe valia um galho da tal árvore!



Anderson Dias Cardoso.

Oportunidade de Mercado!

-Então, como anda sua criação de unicórnios?
-Muito bem!Estou super entusiasmado, e o mercado tem sido muito receptivo à esse tipo de "produto"!Estou até selecionando alguns deles, e tentando um cruzamento que me dê em retorno mini-unicórnios!Tive essa idéia depois de gastar meu salário todo na compra de um casal de mini-porcos!
-Aposto que sua freguesia vai adorar!
-Os imaginários até que sim; quanto aos reais, bem... Eles acham que pode ser meio perigoso.Suas crianças podem eventualmente escorregar, e cair sobre o chifre do bicho!

Anderson Dias Cardoso.