Quando se provou a inviabilidade existencial desta raça,
quando se exauriu todo recurso, a tecnologia convidou a espécie à imersão
final, e cada alma se tornou arquivo circulante nos nano circuitos de um mainframe
absoluto!
O aparato se utilizava de conversores moleculares que
processavam, e fundiam as abundâncias de nitrogênio, captados por capilares de
absorção distribuídos pelo globo, e a totalidade de vidas simulava seus
ambientes e vicissitudes numa superfície modesta de 1 km de raio.
Nos processos de digitalização dos indivíduos escolheu-se a
normalidade da vida anterior, (ato que visava uma resposta homogênea à
transição, não traumática) com toda sua hierarquia, burocracia, interações, estados
d’alma e expectativa de vida, de forma que, após o “lapso” (período imediato à
inserção) eram deletados os instantes de contato com a aparelhagem de suporte
da virtualidade existencial, e logo houveram miríades de cápsulas corpóreas
sendo esvaziadas, em um êxodo digital agitado, rumo à normalidade de um dia
virtual vulgar!
Cada bit se encaixou em sua harmonia simulada, e em seus
tempos retardados, empiricamente pré-calibrados por programas representantes,
depois, por alguns doentes terminais, que receberiam a restauração de sua integridade
no mundo artificial.
Um mundo exterior, entrópico, seguiu se degradando até a
possibilidade de suas substâncias, e então, um pequeno globo e suas armações
tentaculares se desprendeu da poeira do planeta para vagar até a consumação das
blindagens de sua existência...
Conduzia consigo arquivos viventes, que eram a descendência
digital daquilo que um dia fora vida!
Anderson Dias Cardoso.