quinta-feira, 26 de julho de 2012

Êxodo Digital.


Quando se provou a inviabilidade existencial desta raça, quando se exauriu todo recurso, a tecnologia convidou a espécie à imersão final, e cada alma se tornou arquivo circulante nos nano circuitos de um mainframe absoluto!
O aparato se utilizava de conversores moleculares que processavam, e fundiam as abundâncias de nitrogênio, captados por capilares de absorção distribuídos pelo globo, e a totalidade de vidas simulava seus ambientes e vicissitudes numa superfície modesta de 1 km de raio.
Nos processos de digitalização dos indivíduos escolheu-se a normalidade da vida anterior, (ato que visava uma resposta homogênea à transição, não traumática) com toda sua hierarquia, burocracia, interações, estados d’alma e expectativa de vida, de forma que, após o “lapso” (período imediato à inserção) eram deletados os instantes de contato com a aparelhagem de suporte da virtualidade existencial, e logo houveram miríades de cápsulas corpóreas sendo esvaziadas, em um êxodo digital agitado, rumo à normalidade de um dia virtual vulgar!
Cada bit se encaixou em sua harmonia simulada, e em seus tempos retardados, empiricamente pré-calibrados por programas representantes, depois, por alguns doentes terminais, que receberiam a restauração de sua integridade no mundo artificial.
Um mundo exterior, entrópico, seguiu se degradando até a possibilidade de suas substâncias, e então, um pequeno globo e suas armações tentaculares se desprendeu da poeira do planeta para vagar até a consumação das blindagens de sua existência...
Conduzia consigo arquivos viventes, que eram a descendência digital daquilo que um dia fora vida!

Anderson Dias Cardoso.

domingo, 22 de julho de 2012

Comum, Do Princípio Ao Fim.


Era uma lagarta inapetente, avessa às verdes folhas à despeito das obrigatórias reservas para transformações; permanecia na aparência de galho esbelto.
Não havia desejos por vôos, paciência para um claustro e dinâmicas de mudança.
Queria seguir o percurso da calma da existência acomodada ao padrão da forma presente!
Era lagarta anêmica, foi bicho solitário, permaneceu convicta, ainda quando as irmãs coloriram os céus!
Não polinizou flores, não provou néctar, não sentiu-se sendo carregada pelas brisas...
Comum, do princípio ao fim!
Uma rebeldia chamada acomodação!

Anderson Dias Cardoso.
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