Sofria de analgesia congênita e embotamento emocional, no
entanto os argumentos racionais de pais preparados o demoveram do isolamento,
convencendo de que havia um mérito na produção e interação que excedia a falta
de estímulos que sentia!
Graduou-se então nas letras, não seguindo as aptidões em
exatas tão celebradas pela família; e, tentou entender as complexidades dos
humores humanos de forma mais intuitiva e espontânea do que em tratados de
psicologia.
Experimentou relacionamentos, para provar a normalidade;
conquistando sem ser tocado, e prosseguiu até o casório de unilateralidade
sentimental; a esposa feliz pelo reconhecimento dos esforços, responsabilidade
e fidelidade ofertados com sinceridade como substitutivos da passionalidade!
Contribuiu socialmente, economicamente; com serviços,
caridade e impostos, à despeito de sua nulidade em qualquer prazer ou pena!
Foi incompreendido pela impassibilidade dos gestos,
ostracionado pela relativa indiferença de quem não se move por interesse
escusos, e assim, pôde selecionar seus poucos convívios com a razão mutualista
saudável à todos interessados!
E ele ainda foi moído por punhos preconceituosos, apedrejado
algumas vezes, por simples crueldade de quem tenta notar se ele realmente não
reconhecia o próprio corpo; e muitos o provocavam, o difamavam, o ofendiam...
Mas era sempre deboche sem o prazer do riso, era zombaria
inútil aos seus sadismos:
Ele nada sentia!
Anderson Dias Cardoso.