Diziam que era ótimo imitador; uns, que era o melhor.
Sua habilidade não se restringia às vozes, mas reproduzia
todo ruído que lhe chegava aos ouvidos.
E era daquelas pessoas expansivas que, sem pudor, exibia seu
talento orgulhosamente, brincando com a sonoridade dos fragmentos disponíveis
em seu espaço e memória, divertindo amigos e passantes; mas recentemente andava
meio contido...
Diziam que estava se religiogizando.
Carregava seu livro onde quer que ia, e muitas vezes a boca
se furtava de se recrear; mimetizando em estéreo as propagações dessa vida,
preferindo recitar uma quase silenciosa prece!
E ele orou, jejuou e se santificou até que pôde ouvir a voz
de Deus!
Então se comoveu com a gravidade e potência do logos e seu
som de muitas águas, mas logo que o deslumbramento lhe fugiu da consciência se
riu, e se riu daquele poder e manifestação; foi quando os lábios se abriram
para o copiar:
“-QUE HAJA A LUZ!”
E houve!Com todo o brilho violento de miríades de sóis, e
foi consumindo com sua alvura seu corpo, planeta, e toda a antiga criação!
Anderson Dias Cardoso.