-... aquele papo sobre o tal Cordyceps Unilateralis, a hora adiantada, e o barulho do
maldito “Pancadão” rolando aqui no vizinho. Sei lá, acho que minha mente se
transmutou em algo parecido com um pudim.
-Notei que digitava mais devagar. Achei melhor te mandar pra
cama.
-Não!O papo estava ótimo; eu teria continuado mesmo com os
tais empecilhos.
-Interessante como relacionamentos virtuais podem ser tão
viscerais, não?Um ano de conversa, e nenhum contato fora do teclado. Uma,
talvez duas fotos. Acho que nos conhecemos quase tão bem quanto irmãos
siameses.
-Aquelas mensagens de voz que me enviou ontem. Meu antivírus
está acusando que estão infectadas. Não abrem de forma alguma.
-Computadores são bichos estranhos. Às vezes ocorre esse
tipo de problema no sistema, e eles passam a marcar como nocivos os arquivos
desconhecidos. Já tentou desabilitar o Firewall, nesses casos em
específico?Abrir uma exceção?
-Não tinha pensado nisso.
-Costuma resolver. Caso contrário, peça alguém aí pra
reinstalar o OS que o problema desaparece.
-Eu acabo de adicionar a exceção. Seu áudio está com um
ruído estranho ao fundo.Mal consigo ouvir o que diz...Ah!Meu Deus!
-Sim, Heitor. Você precisa tomar um pouco de ar fresco.Vá
até a janela, e lá permaneça até que se decomponha e espalhe meus esporos
biodigitais por toda essa cidade.Contamos contigo para povoar o local.
-Claro, meu caro. Não é isso que os amigos fazem uns pelos
outros?
Anderson Dias Cardoso.