Acomodamo-nos próximos à porta; em lugar fresco, tentávamos adiantar o tempo para a aula em conversas comida e bebida.
O coreto em frente, a rua ao lado e a própria lanchonete eram vivos como um dia de sábado e eu notava um pouco de tudo e ainda me fixava nas banalidades ditas.
A barriga cheia e tempo ainda sobrando tendíamos em rematá-lo naqueles bancos duros, em silêncio, notando os fluxos e gestos do mundo ao redor.
Um garoto imundo rompeu nossa monotonia cruzando o portal; caixa de madeira enganchada no ombro esquerdo, levava seus petrechos e misérias ainda com porte digno.
-Moço, tenho fome... Pode me pagar um salgado?
-Claro, sirva-se!-A fome era coisa que me incomodava como uma afronta da indiferença, e eu observei o jovem se aproximar do balcão e pedir um pão de queijo.
Chocou-me sua humildade ao ver pegar o mais barato alimento da estufa, e eu me vi dizendo que pegasse um cachorro quente, ou o que lhe apetecesse, pois meu dinheiro era muito curto, mas bastava para lhe melhorar o paladar.
Ele pegou humilde um cachorro-quente, agradeceu com um sorriso e desceu os três degraus para a rua, foi quando se achegou um outro faminto e ele dividiu ao meio o que havia ganhado e ambos se foram.
A surpresa daquela misericórdia me prendeu ao banco, e de lá não me movi até que o garoto se desfizesse no emaranhado humano.
Queria ter ofertado um pouco mais deste meu pouco, mas a bondade alheia às vezes choca, escandaliza, paralisa...
Anderson Dias Cardoso.
5 comentários:
Meu amigo, saudades de te ler...
Uma história que mexe connosco.
Um abraço
oa.s
Pois é, moço!! Estamos tão desacostumados com a honestidade que atitudes assim nos deixam pasmos!!!
Ás vezes, gostaríamos de poder fazer mais por outras pessoas, mas diante da sociedade, onde alguns dão fama aos demais...Você nunca sabe em quem confiar de verdade!
ótimo texto...amei de novo!
Que barbaridade de lindo!
bjão
Quase chorei kkkk (juro) muito linda a est-hist .
quando vi dois textos seus que havia perdido, fiquei chateado com a minha falta de tempo, tou perdendo muito.
Execelente, como sempre !
Ps: Obrigado!
até mais ler
Ah, Anderson! Você escreve com alma, até quando expõe as facetas da miséria humana!!! Mais um texto que trabalharei na sala de aula, junto com meus alunos. Parabéns, viu, amigo? Reitero que sou sua fã incondicional!
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