“Que bom que aperfeiçoaram o processo de transferência de consciência!
Agora vou esperar baratearem o serviço, e encomendarei um clone de uns vinte e
poucos anos, sem aqueles defeitinhos genéticos e pré-disposições a coisas
desagradáveis...”-Ele disse!
Juntou uma grana (uma grana mesmo!), uns cupons de desconto,
pontos acumulados no cartão de crédito e esperava alguma promoção.
Havia tempo!Pelas contas, e expectativa de vida. Mas, depois
lhe diagnosticaram a diabetes, e ele, em uma consulta à internet, descobriu que
um pâncreas artificial custava quase o
mesmo preço de um “transplante de alma”.Procurou uma daquelas clínicas
obscuras, recomendadas aos sussurros por um ou dois amigos que conheciam
pessoas as quais haviam feito a troca de corpos, e se diziam satisfeitas!
Ele pensou se, como
em outras vezes, os “amigos” não receberiam “algum” pelas indicações feitas.
Oito dias depois, firmado o contrato sob um desconfortável
clima de desconfiança, num lugar que denotava pouquíssimo profissionalismo, foi
encaminhado para a sala onde “subiriam seu conteúdo pessoal”.
Tudo foi tranqüilo, e, à despeito das péssimas impressões
iniciais, os “garotos do computador” sabiam mesmo o que faziam; e, depois de
algumas horas emularam seu arquivo para que visse, até permitindo uma prosa
rápida consigo mesmo!
Voltou para casa satisfeito, abraçou mulher e filho,
prometendo que já havia olhado um corpo novo para ela, e um videogame
holográfico de segunda geração para ele. No outro dia o desligaram deste mundo,
transferiram os dados restantes, e o religaram no corpo melhorado!
Ótimo hardware!Bonito, saudável, um pouco mais inteligente
(eles acionavam as conexões sinápticas de acordo com o pacote)... Ou, seria!
Por alguma causa, a qual ninguém sabia ao certo explicar, o arquivo
instalado no corpo novo veio corrompido!
Anderson Dias Cardoso.