O namorado entregou a caixa vazia e a namorada a abriu se encantou e ergueu polegar e indicador que seguravam o nada, e o olhou contra a luz, enxergando um brilho no vácuo.
-O mais belo anel de todos!Diamantes graúdos para celebrar um amor eterno!- E ela ornou o anular, orgulhosa da proposta.
Ela vestiu se de lírios, e se coroou com trançados silvestres.
Ele vestia jeans e camiseta de banda, e os ralos cabelos teimavam em se desalinhar.
Tomaram animais por convidados, e antigas árvores por testemunhas e se riram satisfeitos do enlace; mas o amor secou no mesmo repente do nascimento.
Ela se viu enamorada por um anjo, ou criatura abstrata; e ele tentou lhe apreender a alma, mas ela era esquiva ao toque, fria ao apelo.
Ele capturou um vento, e lhe armou um laço para os fios, mas ela desfez o arranjo.
Presenteou-a com uma flor que ainda não havia sido inventada, mas o cheiro não trouxe sensibilidade ao coração.
Cantou com o pensamento a mais bela música, mas aos ouvidos impassíveis soou como cacofonia.
Em desespero o amor ciumento tentou matar o amante, mas qual era seu rosto e quem era sua pessoa?
Se algum dia o via, era reflexo nos olhos da amada, e se era anjo para ela, ele o chamava demônio!
Na negociata sentimental ele ofereceu um meio coração, mas ela preferiu seu amor inteiro, visceral e egoísta e se afastou para nunca mais voltar.
O namorado, entristecido lançou o anel que não existia de sua mão, e curiosamente o contador de estórias viu que mesmo assim ele lhe marcara o dedo.
Anderson Dias Cardoso.