sábado, 8 de agosto de 2015

Quando Ícaro Saltou...



Era Ícaro no nome, tal qual o filho do construtor do labirinto; mas este era o “meu” Ícaro, parido dum devaneio de tédio, na volta à escola pra casa, já adulto e atribulado, lá pro ano de 1999.
Tal qual o outro, este também tinha seu próprio precipício.
Não lhe dei asas de cera, e o que me preocupava era a queda. (Para baixo existem tantos destinos!)
Não havia lhe inventado uma motivação, ainda que o revisitasse milhares de vezes. (É que a vida, mesmo fictícia, pouco se explica!)
E lá estava, está, (estaria?) o pobre garoto, ansioso à beira do salto; segurado apenas por capricho, ou falta de imaginação!
Angustiado com a situação que nunca se resolve, hoje, me convenci lhe conceder alguns passos, e lhe adiantar a história um pouco mais.
Alguns toques nas teclas, e a pobre marionete saltou!
Ícaro se tornou um personagem eterno, inacabado e despropositado, cuja parte mais interessante vêm de sua inconclusão.
É mais um daqueles personagens clichês, que caem para sempre, sem, contudo chegar a algum lugar!




Anderson Dias Cardoso.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Sobre Membros Fantasmas.

O homem era um verterano, e reclamava de frequentes coceiras entre os dedos de sua mão esquerda, amputada na tentativa de desarmar uma mina terrestre, naqueles conturbados tempos da Segunda Guerra.Certa feita, a babá de seu filho caçula, Margot Willensen, enquanto lavava as louças da merenda do garoto, notou o homenzarrão ao seu lado, e sentiu, sem que visse, algo como uma mão lhe abraçar a cintura.
Pegou logo o casaco, e não esperou pagamento.
Talvez aquilo fosse só coisa de sua cabeça, talvez não.




Anderson Dias Cardoso.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Uma Pequena Crônica Sobre Pessoas, Super-Heróis, e o Fim do Mundo.

Uma raça com a tecnologia avançando exponencialmente, a longevidade proporcionada pela informação, saneamento, medicina acessível, drogas, etc; uma incrível nostalgia, e a nova onda de personificação, não só de pessoas, mas de personagens(quem diria que veriamos tantos Kens, e Barbies humanos!?).Imagino daqui algum tempo, um condenado despertando depois de alguns bons anos em qualquer prisão criogênica. Uma vez solto naquele mundo de neon, hologramas e propagandas interativas e multidimensionais/sensoriais; este se encontraria numa realidade que corresponderia a uma espécie de encruzilhada intergalática, ou um plano de "realidade ficcional"!
Com próteses, gadgets, implantes, modificações genéticas, não seria difícil esbarrar com um fã de Alien, transmutado no próprio monstro, dividindo lugar em uma fila de banco com nosso amigo egresso do cárcere.Um homem, com quem cruzaria num fast food, haveria trocado três de seus membros por próteses, numa loja de corpos, posteriormente procurando uma clínica de mutilação de tecidos e emulação de texturas, para que lhe incendiassem a pele na porcentagem correta preceituada pela mitologia da série.No shopping autorizado completaria seu paramento, adquirindo o tal  respirador e o sintetizador de voz, que é pra dar aquele charme. Pronto! Agora seria um dos milhares de Dart Vaders espalhados pelo mundo!Um garoto, de um pouco mais de dezoito anos, (reconhecido por sua voz oscilante, e a pele fresca de suas mãos, ainda não envelhecidas pelo revestimento sintético, o atenderia no setor de frutas de um supermercado, vestindo o corpo, as rugas e as roupas do "Padrinho".Certamente não aceitaria laranjas, se lhe oferecesse.
Seria interessante que desse uma passada no Bar Elemental, para ouvir, nas quarta feiras, a mais perfeita, e afinada cópia  de Diva Plavalaguna, com aquela maravilhosa, e lustrosa tês azul, e seus apêndices descendo delicadamente de ambos os lados daquele seu crânio alongado.Ah!Aquela voz!
Os problemas sociais naquela época seriam um pouco diferentes.Ao menos para uma parte da população!
Preconceitos com a classe dos mimetizadores de baixa renda, e a ostentação dos mais abastados.  os conflitos para incorporar a identidade do seu “ídolo” oficialmente (assim como no caso dos Highlanders, só pode haver um!), o mercado negro, os implantes, transplantes, cirurgias, adaptações, alterações feitas por profissionais do mercado paralelo, as crises de identidade, o investimento no desenvolvimento de super-poderes que acabarão por transformar as pessoas, de fato, no que elas almejam!Tanto vilões, quanto mocinhos!
O fim do mundo será uma coisa dantesca, proporcionado por seres lendários...


  
Anderson Dias Cardoso.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Quando Chegarmos Lá...

-Ah!Comprei um daqueles aparelhos que convertem ondas sonoras em matéria!Mal posso esperar para mobiliar minha cápsula e realizar alguns daqueles meus projetos de próteses vintage para betelgeusianos!
-Nossa, que bacana!
-É.Hoje em dia tudo é tão prático, e instantâneo!Acho que não sobriveria num tempo onde não houvesse tais tecnologias.
-Cara, nem eu!-Deu dois alegres tapinhas no ombro do amigo, acertando, sem querer, seu interruptor.
O corpo tombou inerte no piso de cerâmica plástica, sob o olhar assustado do amigo.





Anderson Dias Cardoso.

domingo, 2 de agosto de 2015

Biografias.



-Lua Marcelle de Rios Passos, ou luz que iluminou nossas vidas quando veio ao mundo, naquele dia 27 de junho de 2001!Garota rosada desde sempre, sorridente, ainda que gritasse em plenos pulmões, em qualquer hora do dia e noite, quando lhe doía a fome. Seu primeiro sapatinho foi rosa e branco; seu primeiro passo foi dado para alcançar os braços de sua irmã.
Gostava de papinha de mamão e açúcar, da maciez dos pêlos do cachorro Bernardo, e dormia sem qualquer cerimônia mesmo quando seu pai assistia, e vibrava com o jogo do seu time favorito.
A escolinha veio precocemente aos quatro. Ela aprendeu bem a somar alguns números, a modelar princesas em massinhas, e a colorir desenhos estenografados que a “tia Clara” lhe apresentava.
Na primeira briga, chegou com joelho machucado, e foi acolhida com abraço e analgésico. Você disse que não se importasse ou revidasse, pois se o mundo era um lugar mau; pessoas como vocês é que o endireitariam!
Ela lhe escondeu o primeiro beijo, mas não por muito tempo. Ficou envergonhada, mas a amizade era grande demais para comportar algum segredo!
Com a morte do velho e bom Bernardo, ficou ali, pelos cantos. Você prometeu um novo “amigo”, mas ela disse que aquilo tudo ia passar.Ela, com tão pouca idade, já conhecia bem sobre o luto.
A festa de 15 anos se aproxima!Ela te cobra o vestido que viu numa revista, e a presença de uns poucos amigos. Não lhe pediu presente algum; sabe que seu pai mal consegue pagar as contas.Disse que ela mesma faria seu bolo; e se pesasse no orçamento, poderiam substituir os refrigerantes por suco...- E é aqui que paramos a história de sua filha, dona Lúcia!
-Que lindo... Gostaria que continuassem-na, mas, como sabe, meu marido perdeu o emprego recentemente.Ele vendeu nossa moto, pagou algumas de nossas contas, e me deu um dinheiro para que eu pudesse acertar os capítulos que vocês já escreveram.Acho que consigo algum dinheiro emprestado com um conhecido...Esse resumo ficou tão lindo!Posso ter uma cópia?
-Claro!Uma cópia, com papel em fibra de linho, inscrições em dourad...
-Só uma simples cópia. Papel sulfite mesmo.
-Sim. Mas, não oferecemos cópias coloridas com a arte que fizemos dela, gratuitamente.
-Não importa. Eu, já não acho que ela seria assim mesmo.
-Quando a senhora decidir continuar a obra, nós podemos acertar com o departamento de artes um retrato mais ao seu gosto. Hoje em dia, com os bons programas de computador que temos, tudo o que produzimos acaba sendo mais convincente, gráfica e emocionalmente, do que a própria realidade!
-Sim, eu sei. Vou ver com meu marido o que podemos fazer.
-Claro!Nós da “Biografia Ideal” sempre nos esforçamos para tornar verdadeira a experiência que poderiam ter ocorrido, no seu caso, se infelizmente sua criança não houvesse falecido no parto.




Anderson Dias Cardoso.
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