-Lua Marcelle de Rios Passos, ou luz que iluminou nossas
vidas quando veio ao mundo, naquele dia 27 de junho de 2001!Garota rosada desde
sempre, sorridente, ainda que gritasse em plenos pulmões, em qualquer hora do
dia e noite, quando lhe doía a fome. Seu primeiro sapatinho foi rosa e branco;
seu primeiro passo foi dado para alcançar os braços de sua irmã.
Gostava de papinha de mamão e açúcar, da maciez dos pêlos do
cachorro Bernardo, e dormia sem qualquer cerimônia mesmo quando seu pai
assistia, e vibrava com o jogo do seu time favorito.
A escolinha veio precocemente aos quatro. Ela aprendeu bem a
somar alguns números, a modelar princesas em massinhas, e a colorir desenhos estenografados
que a “tia Clara” lhe apresentava.
Na primeira briga, chegou com joelho machucado, e foi
acolhida com abraço e analgésico. Você disse que não se importasse ou
revidasse, pois se o mundo era um lugar mau; pessoas como vocês é que o
endireitariam!
Ela lhe escondeu o primeiro beijo, mas não por muito tempo. Ficou
envergonhada, mas a amizade era grande demais para comportar algum segredo!
Com a morte do velho e bom Bernardo, ficou ali, pelos cantos.
Você prometeu um novo “amigo”, mas ela disse que aquilo tudo ia passar.Ela, com
tão pouca idade, já conhecia bem sobre o luto.
A festa de 15 anos se aproxima!Ela te cobra o vestido que
viu numa revista, e a presença de uns poucos amigos. Não lhe pediu presente
algum; sabe que seu pai mal consegue pagar as contas.Disse que ela mesma faria
seu bolo; e se pesasse no orçamento, poderiam substituir os refrigerantes por
suco...- E é aqui que paramos a história de sua filha, dona Lúcia!
-Que lindo... Gostaria que continuassem-na, mas, como sabe,
meu marido perdeu o emprego recentemente.Ele vendeu nossa moto, pagou algumas
de nossas contas, e me deu um dinheiro para que eu pudesse acertar os capítulos
que vocês já escreveram.Acho que consigo algum dinheiro emprestado com um
conhecido...Esse resumo ficou tão lindo!Posso ter uma cópia?
-Claro!Uma cópia, com papel em fibra de linho, inscrições em
dourad...
-Só uma simples cópia. Papel sulfite mesmo.
-Sim. Mas, não oferecemos cópias coloridas com a arte que
fizemos dela, gratuitamente.
-Não importa. Eu, já não acho que ela seria assim mesmo.
-Quando a senhora decidir continuar a obra, nós podemos
acertar com o departamento de artes um retrato mais ao seu gosto. Hoje em dia,
com os bons programas de computador que temos, tudo o que produzimos acaba
sendo mais convincente, gráfica e emocionalmente, do que a própria realidade!
-Sim, eu sei. Vou ver com meu marido o que podemos fazer.
-Claro!Nós da “Biografia Ideal” sempre nos esforçamos para
tornar verdadeira a experiência que poderiam ter ocorrido, no seu caso, se
infelizmente sua criança não houvesse falecido no parto.
Anderson Dias Cardoso.