quinta-feira, 3 de maio de 2012

Bifes Metálicos.

Era bovino que mugia sem alma, um simulacro sintético da vida extinta sem qualquer compromisso metafísico além da superficialidade da aparência.
Ruminava o aleatório e o transformava, aos olhos alheios, em reações emocionais; e então, havia riso ao que, na realidade era pouco além de propaganda de entretenimento.
Serviu-nos bem à memória, e esquecemos, e nos desculpamos pelos consumos e descuidos relacionais de nossa ecologia.
Eram bois e vacas malhadas, com umas mesmas tramas e docilidades programadas para agradar e permitir toda interação desejada!
Se não se ofereciam em produtos, era de se esperar ao menos simpatia!
Era esta mesma a força de seus contratos, e a finalidade da obstinada replicância.
E pasceram então, tão eternas quanto permitia a regra da obsolescência; pois os bois artificiais não se davam para bifes metálicos! 

Anderson Dias Cardoso.

domingo, 29 de abril de 2012

O Gastrádipo.


Visitou novamente o armário, apartando os úteis para o dia.
Gorro, luvas, paletó (ainda que um pouco empoeirado) e as calças forradas e folgadas para uma caminhada desenvolta, e lá, escondido pelas sombras do fundo do compartimento estava.
Um Gastrádipo sempre era uma coisa bonita de se ver!
Escorreu os dedos nodosos para o interior da peça buscando o toque; recuou indeciso diante da invulgaridade das texturas, cores e relevos.
Contorcia-se vez em quando em um leve tremular sonolento, e o susto sempre acompanhava uma gargalhada!
Resolveu-se por tomar por um pouco em suas mãos, e, no tocar da pele fria, na troca de temperatura entre os corpos e todo envolvimento emocional do momento, sentiu-se um pouco triste pelo seu exclusivismo!
Experimentou ainda mais um pouco o peso, e as sensações de posse empática...
A porta do quarto se abriu, e ele, meio que constrangido devolveu o Gastrádipo ao seu claustro e esquecimento.
Sabia que a visão de um Gastrádipo não é pra quaisquer olhos!

Anderson Dias Cardoso.
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