sábado, 23 de outubro de 2010

Ônibus...Um Universo Confinado.

Ônibus, plenitude da palavra coletivo, invasão de todos os sentidos, lugar de reencontros, novos amores, náuseas.
Onde cantam os mc’s, as frutas.Uma multidão se sufoca em uma verborragia alucinada
e pobreza paga caro pelo aperto; pela invasão.
É um nirvana torto, imposto, uma diluição do eu e da dignidade do ser.
É o espetáculo do lucro indigno, um sadismo exploratório de empregados, funcionários... semelhantes!!!
Onde o ter é igual a subjugar. A propaganda e a satisfação se excluem, o beneficio dado esconde a mão que furta...
Olhe e veja o luxo dos estofados, a novidade dos veículos, as superfícies emborrachadas.
Veja que cores vibrantes de um claustro moderno. Tormento do toque,dos tumultos,onde fervilham iras pelas pessoas erradas.
Purgatório, onde a salvação está no salto do próximo ponto...

Anderson Dias Cardoso.

domingo, 17 de outubro de 2010

Peito Vazio.

Cada qual teve seu problema resolvido,Dorothy conseguiu sua volta
garantida como pagamento por uma campanha publicitária de uma
companhia de viação,campanha muito bem sucedida pois foi baseada na
volta da heroína para casa,o que deu um caráter emocional,e ressaltou
o comprometimento da empresa com "filantropia" e causas sociais;quanto
ao espantalho procurou a solução da sua anacefalia em tratamentos com
células tronco,implantes de microprocessadores,transplante de cérebro
porém sem sucesso,então frustrado,tentou terapias cognitivas,e
ocupacionais para amenizar uma depressão,e tentar suprimir a tal falta
de cérebro,e em uma sessão de musicoterapia ele se encontrou!!!Logo se
interessou pelas músicas "alternativas" e passou a compor Funk,e nunca
mais sentiu falta de um cérebro!!!Quanto a mim,continuo buscando o que
me falta,sofrendo em imensas filas ,onde nas madrugadas o sereno me
fustiga,me corrói,e o vazio do peito não encontra consolo,eu tento um
transplante,mas se negam me operar,e se riem do meu caso dizendo não
ser um caso patológico,mas existencial;então tentei o mercado negro,e
compreendi que um coração roubado,quando pulsasse pulsaria pesado de
amargura,e então minhas invejas,meus ciúmes dos humanos se mostraram
ridículas,e eu me vi correndo atrás de um coração não orgânico,mas um
sentir,e tristemente descobri que coração de homem bate,mas não
sente!!!

Anderson Dias Cardoso. 

Balé do Espantalho.

Tocou as sapatilhas empoeiradas naquele armário já esquecido, os dedos fofos corriam no tecido negro, e o peito se comovia mais um tanto!!! O piano cantava leve um convite ao salão, enquanto se enrolava em fitas, atando-as, dando contorno ao seu corpo de palha! Uma angústia ia nascendo na alma, e o sorriso nervoso se fez; então ele correu pronto para as portas, e cruzando-as encontrou-se no seu éden!Contorcia se meio flutuante pelo som, e sentia a angústia tornando se um ardor, e a leveza sua o conduzia em voltas e passos de dança,o chão de vinil rogava por toque,mas seus pés aeravam zombando da gravidade,dançava sob a revoada dos corvos,porém não se lembrava de seu ofício,mas a música foi se tornando vento,e no teto,os caibros,estrelas e o frescor da noite aliviou o calor do corpo,e as sapatilhas se feriram nos seixos,mas a dança o movia com amor,e ele rodopiou,e rodopiou em meio à plantação,e se viu sozinho,e parado se dobrou à solidão,e correu pelos corredores do milharal,e escalando o madeiro abraçou se nervoso à sua rigidez,e negou seus movimentos,e temeu a escuridão e notou que era só um espantalho,e as contas negras caíram de suas órbitas,e os corvos que antes assustava gorjearam satisfeitos um adeus...

Anderson Dias Cardoso. 
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