Pedia licença em cada casa, e à despeito de sua polidez e
bons antecedentes o seu vício; particularmente sua cleptomania, o tornava alvo
de imprevistos constrangedores.
As pequenas peças nos lugares visitados participavam da
mágica prestidigitação do mancebo, que por sinal era bem competente; se bem que
a suspeita de seus tantos pequenos furtos detonavam focos de piadinhas dentre
os possíveis defraudados mesmo antes que a mão adestrada alcançasse qualquer
alvo de desejo, coibindo o ato e gerando ojeriza no larápio!
A patologia acabou por afastá-lo de suas amizades pelo tempo
suportado por alguém que amava o convívio, e logo ele visitava as relações
abaladas ao tempo que anunciava tratamento psiquiátrico!
Enquanto desenvolvia qualquer conversa sacava do bolso o
penhor de sua recuperação:
-É apenas um frasco onde reúno todos os medicamentos
inibidores de minha compulsão!- E tragava sem água e com o esboço de riso
confiante nos lábios, mas logo que permitia a ocasião reclamava a sede que não
teve ao se medicar, ou as dores fisiológicas das quais todos padecem e visitava
sozinho a cozinha ou o banheiro...
Vasculhava qualquer cesto de lixo, e todo descartável que
com certeza nunca dariam falta e o embolsava ainda que envolta em pútridos
detritos; voltando à sala desculpava qualquer demora e imergia ainda mais
agitado na prosa!
Em sua casa revirava os manchados bolsos na avidez de
apreciar seu produto!
Um vício se disfarçou em outro, e em sua mudança convidou
seu inquilinato:
A cinzenta e cevada família de ratazanas, que se esbaldava
na fétida imundice de seus pequenos, porém volumosos crimes!
Anderson Dias Cardoso.