Sacou uma moeda do bolso para doação a um esmolante, arrependeu-se,
mesmo e a despeito das insistências e xingamentos do maltrapilho, resolveu
gastar o dobrão num “cigarro picado”...
Lembrou-se que não fumava, odiava bebida, e balas lhe
estragariam os dentes.
Brincou de cara ou coroa, e, das oito atiradas ao alto,
cinco deram coroa!
Isso bem poderia ser um sinal, mas não acreditava nessas
bobagens; mas, ainda assim, a moeda agora lhe havia despertado para uma
afeição, e um sentimento estranho a respeito da individualidade da peça
niquelada!
Acariciou a efígie, e pensou que ao contrário dos tempos onde
as mesmas eram formas de propaganda imperial, mudando de acordo com o representante
da vez, para sua honra e glória, esta não lhe dizia nada, não sabia quem era
aquela mulher!
Fez a peça cambotear sobre a palma para lhe expor o valor
impresso, e o “1 Real” escrito era qualquer coisa mais abstrata que deveria, já
que a liga nem era das mais nobres. Não que isso não fosse mais uma loucura
interpretativa e atributiva de valor, totalmente oportunista, ainda que bem
útil!
Lembrou-se do antigo sistema de fracionamento da peça, e
sorriu a imaginar que aquele artefato, devido à desvalorização imperceptível, substituída
enganosamente por um holerite mais carregado de zeros, e notas mais graúdas,
agora, se representasse em peso e tamanho seu valor atual, seria o décimo daquilo
que brincava nas mãos.
E o que se dizer da desmaterialização do dinheiro?Da criação
de moedas diversas, baseadas no cálculo, das transações online...
-E aí chefia, tem uns trocados aí?-A voz assustava, mas a
aparência do abordante ainda mais!
-T-Tenho esta moeda...
-Cala boca seu mentiroso filho da. Vai tirando a roupa, e me
passando, se não quiser levar um “teco” na cara”.
Ah!O dinheiro é uma coisa maravilhosa mesmo!
Anderson Dias Cardoso.