Já havia ganhado muito dinheiro na vida, tanto quanto não
conseguiria gastar, mesmo que fosse grande esbanjador, contudo, à despeito de
possuir o que bastava para comprar boa parte do mundo, escolheu uma modesta
ilha, numa rota fora de rota, e encomendou algumas centenas de clones
idênticos, os quais lhe serviriam para fundar a tão sonhada “Colônia dos Iguais”.
Se, contudo comandava, e se relacionava com uma quantidade
muito maior de pessoas, porém, continuava almejando um daqueles mundos
solidários, onde a hierarquia, o trabalho remunerado, a competição, e as diferenças
fossem postas de lado em favor do bem comum, e, se o mundo daqueles dias não
era conforme seu desejo, e nem lhe restava tanto tempo para se apegar à
esperança de algum dia o ver materializado, resolveu-se por criá-lo ele mesmo!
Antes de partir, passou a posse de suas empresas aos dois
filhos, com uma cláusula que lhe asseguraria o financiamento de sua utopia e
outra que impediria que se matassem por conta da herança. Os abraçou uma última
vez e recomendou-lhes juízo e moderação. Quanto à mulher, esta aceitou o
contrato que lhe cedia alguns milhões, além da mansão onde residiram (uma
proposta até generosa, visto que as provas de seus casos extraconjugais haviam
sido expostas por mais de uma dúzia de jornais sensacionalistas ao longo do casamento), sob a
promessa de que nunca se desfaria, ou destrataria as duas cadelas da raça
shitsu, as quais certamente sentiria muita falta.
Quando aportou tudo já estava pronto. Os alojamentos gêmeos,
as roupas idênticas, e bem ao seu gosto, a área de recreação, as estradas, a
comida...Ele suspirou!
Já havia elaborado tudo de forma que não houvesse qualquer
tipo de privilégio a quem quer que fosse, e ele mesmo, antes da partida, havia
se vestido de acordo a se misturar, perder sua individualidade em meio a tantos
de seus “eus”!
Lá não haveria maior, ou menor, as funções seriam
desempenhadas por todos, segundo um calendário, além de, caso houvesse qualquer
tipo de reclamação, esta seria resolvida por um conselho consigo mesmo, no qual
todos os interessados, e avulsos à situação poderiam comparecer e opinar!Uma
maravilha de sistema!
Então, todo dia lá estava ele, que às vezes nem mais se
lembrava de seu passado, andando em meio àqueles tantos irmãos, desempenhando
cada dia sua tarefa designada. Todos se sorriam, trocavam abraços, festejavam
após seus afazeres, cantavam, dançavam, comiam; até que notou que num dia
desses havia um grupo reunido um pouco além de onde costumavam se encontrar...
Estranho, seus olhares pareciam diferentes...
Anderson Dias Cardoso.