quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O Fruto Dos Sonhos Frustrados.


Era homem capaz, corpo forte, disposto e amigo das águas.
Evoluía em movimentos complexos ao ponto de ofuscar a experiência de seus pares e tutor.
Diziam ser meio peixe, ou evolução laboratorial, mas a modéstia sempre o fazia se achar fruto do acaso, e das poucas lições de nado de seu pai; num tempo em que o velho achara destino ser medalhista!
O salário mirrado rendia sunga e lições, e a insistência pela perfeição lhe furtou o tempo de escola, e depois do falecimento paterno pouco havia restado do sonho!
Apesar dos esforços houveram tantos melhores do que o jovem, e o que restara de si se consumia entre a carga e descarga de um atacadista.
A vida foi se amargando, e nem havia dinheiro pra visitar algum clube.
À despeito do amor que sentia por seu pai era impossível esconder de si a mágoa!
Tornou-se companheiro dos destilados, e afastou os amigos restantes... Quando deu por si havia ferido com os punhos ao gerente, e foi atirado à rua.
Neste dia errou instintivamente por caminhos que cheiravam à sal, e quando encontrou o mar o sol já recolhia seus raios.
Assentou-se isolado na brancura fina da areia, e do assento logo fez de improviso um leito; onde adormeceu de tristeza.
O que acordou foram os espasmos de susto pelo grito, e logo apercebido da morte que rondava a fragilidade do pequeno corpo, se lançou ao tecido aquoso trazendo corajosamente a alma que fora buscar!
Sendo surpreendido pelos flashes dos transeuntes, logo colhia o trabalho de guarda-vidas e infinitas congratulações!
O direito de herói o concedia o melhor posto da praia, mas não fora humildade, e sim rancor que o levou a escolher o mais afastado!
Não houvera a cura da chaga do sonho projetado, e sempre que olhava o mar, se lembrava das intenções do pai...
Não era de se surpreender que no ermo revolto onde decidira ser, vez por outra, quando não havia alguém por perto, o guarda-vidas deixava uma ou outra vida perecer!

 
Anderson Dias Cardoso.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Misofobia e Outras Patologias Recreativas.


As severas reprimendas da mãe em suas primeiras primaveras quanto à suas incontinências intestinais se insurgiram, e uma vez libertas das regiões subconscientes o moviam agora em estranhos e tristes rituais de limpeza e arrumação; dos quais os últimos decorreram dos períodos onde o entendimento rondava a confusão da pequena mente e a genitora o obrigava a ordenar além de seus parcos brinquedos.
Aos quatorze já o irritavam o desalinho e até a desarmonia de móveis, imóveis e pessoas; e já era acometido por pequenas “gasturas” por manchas e encardidos onde quer que avistasse.
Aos dezessete já tinha as mãos consumidas de cloro, a casa vedada e labutava 18 horas pela salubridade do lar, enquanto o estomago ulcerava de ansiedade pelos poucos instantes em que o corpo o obrigava o repouso.
Nestes dias o laudo pericial já o concedia o título de inválido, e governo o amparou com salário mínimo.
Nos anos subseqüentes acentuaram-se os surtos misófobos e ataxofóbicos e ele já visitava com suas disposições as vizinhanças, e invadia casas, agredindo seus moradores pelo direito de higienizar suas casas.
No auge de suas psicopatias vitimou uma idosa por seu imundo amado banheiro; e quando a sociedade o julgou sua causa o encontrou uma alma que já não era capaz de responder por si, e então a sapiência do magistrado converteu sua pena em oportuna terapia:
O homem perambulava agora contente, entre um banheiro público e outro!



Anderson Dias Cardoso.
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