Era homem capaz, corpo forte, disposto e amigo das águas.
Evoluía em movimentos complexos ao ponto de ofuscar a
experiência de seus pares e tutor.
Diziam ser meio peixe, ou evolução laboratorial, mas a
modéstia sempre o fazia se achar fruto do acaso, e das poucas lições de nado de
seu pai; num tempo em que o velho achara destino ser medalhista!
O salário mirrado rendia sunga e lições, e a insistência
pela perfeição lhe furtou o tempo de escola, e depois do falecimento paterno
pouco havia restado do sonho!
Apesar dos esforços houveram tantos melhores do que o jovem,
e o que restara de si se consumia entre a carga e descarga de um atacadista.
A vida foi se amargando, e nem havia dinheiro pra visitar
algum clube.
À despeito do amor que sentia por seu pai era impossível
esconder de si a mágoa!
Tornou-se companheiro dos destilados, e afastou os amigos
restantes... Quando deu por si havia ferido com os punhos ao gerente, e foi
atirado à rua.
Neste dia errou instintivamente por caminhos que cheiravam à
sal, e quando encontrou o mar o sol já recolhia seus raios.
Assentou-se isolado na brancura fina da areia, e do assento
logo fez de improviso um leito; onde adormeceu de tristeza.
O que acordou foram os espasmos de susto pelo grito, e logo
apercebido da morte que rondava a fragilidade do pequeno corpo, se lançou ao
tecido aquoso trazendo corajosamente a alma que fora buscar!
Sendo surpreendido pelos flashes dos transeuntes, logo
colhia o trabalho de guarda-vidas e infinitas congratulações!
O direito de herói o concedia o melhor posto da praia, mas
não fora humildade, e sim rancor que o levou a escolher o mais afastado!
Não houvera a cura da chaga do sonho projetado, e sempre que
olhava o mar, se lembrava das intenções do pai...
Não era de se surpreender que no ermo revolto onde decidira
ser, vez por outra, quando não havia alguém por perto, o guarda-vidas deixava
uma ou outra vida perecer!
Anderson Dias Cardoso.
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