Dizem que idéias são as ligações efêmeras que constroem
sólidas pontes para o futuro (ao menos, eu digo). Não aquela.
A primeira vez que um pensamento, não substancializado em
qualquer tipo de projeto, era capturado.
A primeira vez em que esse tipo de material, totalmente abstrato,
sobreviveria ao seu próprio dono. Um pedaço da intimidade e da personalidade de
alguém, guardada à posteridade!
O experimento havia sido discreto, mas agora as câmeras
inundavam o saguão da universidade. Havia repórteres de todas as partes do
mundo, se acomodando como possível. Ambiente abafado, estalos de copos
plásticos , mistura de perfumes, suor e mal-hálito. A lâmina de silício-28 logo
seria apresentada.
Finalmente chegaram. Engenheiros da
computação,bioengenheiros, neurologistas, psiquiatras, físicos, lingüistas...A
equipe era imensa, e seus apetrechos e explicações os seguiam de perto.
Ah!A maravilha da expectativa!Um outro avanço tecnológico
que certamente transformaria a mente humana num universo mais acessível e compartilhável.
Talvez depois daquele dia nós começássemos verdadeiramente a nos entender!
As luzes foram apagadas, o holograma piscou intermitente até
que se fixou num facho denso e cristalino. O que teria pensado aquele
garoto-teste? Muitos apostavam no amor, outros, em algo que trouxesse uma
mensagem positiva para ser ecoada através dos dias, e eu não sabia o que achar!
A imagem veio sendo formada. Seu canto faiscou cores
discretas, e a borda direita foi se concentrando em um tom castanho escuro. Fundo
branco; um borrão avermelhado e um som característico de borbulhar surgiam da
aparelhagem de som previamente escondida naquele lugar. Isso não devia estar
acontecendo!
A figura estava completa, porém tremulante. Se estabilizou,
e expôs todas seus espectros e formas.
-Uma garrafa de Coca-Cola? Vocês devem estar brincando!- foi
o que pensou a maioria.
Havia muito tempo que o que movia o mundo não era a ciência,
mas a propaganda.
Anderson Dias Cardoso.
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