Não se lembrava como lhe chegou às mãos, mas o panfleto bem
impresso, com enunciado em relevo e fotos convincentes do local e habitantes, o
fizeram pensar em sua condição.
Subempregado, cheio de dívidas, e completando uma tripla
jornada; encerrada com a troca de fraudas geriátrica, o banho com lenços umedecidos
e preparo da “papa”. O velho gemia um pouco, se contorcia algumas vezes sobre o
colchão de molas, para depois ressonar alto, lhe perturbando o foco no último
noticiário.
A proposta parecia excelente, mas ele meio que se
envergonhava da resolução. Decidiu-se por não comentar com ninguém até que o
financiamento no banco, e a entrega do pai fosse uma realidade.
Felizmente, hoje em dia, algumas entidades são
desburocratizadas, e interligadas.
Assinou a papelada com o timbre “Casa de Adoção dos
Enjeitados”, que em letras graúdas, logo abaixo do subscrito valor recebido,
alertava aos pretéritos responsáveis que, por conta da incorporação naquele
novo núcleo familiar, eles haveriam de ser totalmente desligados de todas e
quaisquer relações pregressas, das quais estas eram terminantemente proibidas
de tentar qualquer contato, ou mesmo retornar algum dia. O arrependimento era
coisa impossível!
Abraçou seu velho uma última vez, mas não disse nada. Não
queria tornar aquilo mais doloroso do que o necessário.
Quando atravessou aqueles portões, se sentiu aliviado. Sabia
que o homem teria uma vida melhor agora, à despeito de tantos boatos maldosos
dizendo que as pessoas ali entregues, fossem velhos, crianças ou doentes
mentais, eram “descartados” assim que a
família partisse.
As pessoas são muito cruéis com quem só quer fazer o bem!
Anderson Dias Cardoso.
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