domingo, 15 de dezembro de 2013

O Pobre Frankenstein Suburbano!


Já havia lido o livro, meditado um pouco e decidido que devia palmilhar aqueles mesmos passos; no entanto, ninguém conhecia na área de medicina, ou mesmo traficantes de corpos ou vendedores de peças humanas à granel!
Consultou a sapientíssima internet, e ela o alertou de que havia chegado à cidade um decadente circo boliviano. Arrumou-se, tomou a caixa com suas economias, um táxi e logo estava às portas da lona!
Bom negociador que era perguntou as renda das últimas apresentações, calculou as despesas das viagens, consumo e imprevistos da trupe e estimou que a falência batia às portas.
O dono relutou, chamou seu conselho, mas juntos perceberam que “o fim era inexorável”.
O homem, então, partiu dali realizado; táxi cheio de anões em preço promocional!
De início, a idéia era dividir os pequenos, e os rearranjar com partes diversas em novos corpinhos mais ou menos harmônicos, mas o caso era que não possuía conhecimentos de corte, além de se lembrar um péssimo resolvedor de quebra-cabeças!
Perderam-se muitos nervos, cartilagens foram danificadas, tecidos esfolados, e, no fim, só conseguiu um encaixe mais ou menos decente para um conjunto!
Apressou-se em cozer, com os mais delicados pontos possíveis a um curioso, as partezinhas daquele novo serzinho.
O carregou com cuidado, deitou-o sobre o tampo da mesa que imitava granito; mediu as extremidades e, contrafeito, teve certeza que aquele homenzinho desbalanceado no mínimo, manquejaria!
“Tudo bem”, pensou consigo, “existem muitas boas marcas ortopédicas no mercado hoje em dia”.
Quanto ao tamanho, estava bem satisfeito! Era modesto, e agora, desconjuntado, certamente não repetiria o terror e violência do monstro original... Se bem que tomara emprestado um 22, para se garantir de qualquer possível eventualidade!
Desencapou então, com a faca de esquartejar, o fio da extensão. Tomou o rolo de esparadrapo para fixar o cobre sobre as têmporazinhas raspadas.
Tudo finalizado, ele se moveu para trás da pesada TV de tubo, e, desemaranhando uma porção de fios encontrou uma única vaga no “benjamim”.
Plugou-o, e logo corria para ver se o corpinho tremelicaria e o surpreenderia com o salto da vida. Já havia, inclusive, ensaiado a frase clássica para comemorar sua engenhosidade; mas antes disso o que o espantou foi a explosão, acompanhada por um característico cheiro de queimado! A casa era ponta de rede, e sempre havia desses problemas de variação de corrente:
”Devia ter ligado um no-break… Ao menos um estabilizador! Um fuzível provavelmente daria conta do recado”, analisou tardiamente.
Sentiu-se frustrado, e um pouco faminto. Despiu o avental plástico que trajava e calçou as havaianas para visitar a mais próxima panificadora. Necessitava urgentemente de um pão na chapa, e uma xícara de achocolatado.
Pensava, no caminho se havia alguma linha de crédito do governo para lhe financiar  outra meia dúzia de anões, e uma aparelhagem mais moderna.
Daí, finalmente construiria seu tão sonhado golen!


Anderson Dias Cardoso.

Um comentário:

Célia disse...

Intrigante! rsrs...

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