O container de lixo, meu destino; o estômago fundo, vazio, seu guia.
Meus passos nem mais relutam em me conduzir, e minhas narinas não mais se enojam dos fortes e pútrido cheiros dos rejeitos de terceiros.
Um bocado de pão duro, umedecido e meio amolecido pela garoa
de horas atrás, as cartilagens e restinhos de carne, que “sobraram” em uma asinha
de frango, três tomates semi-apodrecidos, um restinho de refrigerante de cola,
quente e totalmente sem gás, para empurrar toda minha humilhação goela abaixo.
E ele estava ali, na porta de seu restaurante, me observando devorar seu lixo.
Ele, curioso sobre minha desgraça, já eu, revoltado com sua indiferença.
Estendeu-me o dedo, primeiramente apontando, logo, me chamando.
Me aproximei, e ele sorriu.
-Tens fome?
-Muita... Tanto que “fuço” aquilo que desprezou.
-Tenho comida aqui. Bastante para saciar-lhe qualquer fome.
-Vistes meu corpo raquítico debruçado sobre sua lata de lixo, enquanto sentia o aroma torturante de comida fresca de suas panelas me...
-Peça.
-Mas, eu não tenho nenhum dinheiro!
-Somente peça. Aqui em meu estabelecimento, as portas sempre estarão abertas a
quem puder pagar. E, de certa forma, a humilhação não é também uma espécie de
moeda?
Anderson Dias Cardoso.
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