Maldições, família residente assassinada por um psicopata
que empurrava um carrinho de churros, vozes e luzes brilhando durante as noites
marcadas nos calendários arcanos como agourentas, barulho de correntes, boatos
de frases escritas em português errado num tom sanguíneo ralo de uma vítima que
certamente sofria de anemia, portas batendo, canções entoadas por aquelas
assustadoras vozes de crianças, sob um fundo de caixinha de música...
O lugar era muito visitado, e as histórias aterrorizantes,
mas na chegada de alguém tudo acontecia ao contrário... ou melhor, nada
acontecia!A casa empoeirada, o cheiro de mofo, o carnaval dos ratos, os véus
estendidos das prendadas aranhas, mas fantasmas?Nada!
Ao menos aos olhos dos outros!
Eles estavam ali, quietinhos num canto, aborrecidos com mais
aquela leva de curiosos barulhentos. As excursões se tornavam mais, ou menos
freqüentes, de acordo com a publicidade de algum caso parecido, uma nova
geração de crianças curiosas, ou alguma referência literária ressuscitado,
repaginada, e plagiada.
-Será que eles ainda vão demorar muito?-Era a pergunta
ansiosa repetida naquelas ocasiões.
Eles ficavam por ali, num canto escuro de sua própria casa,
num silêncio aborrecido, sentindo comichões em seu ectoplasma. Vez em quando um
grunhia, mas logo era repreendido pelos demais!A maioria organizada sempre se
indispunha com a minoria bon-vivant/baderneira!Eles avisaram para não fazer
barulho, para evitar a pirotecnia, para desenvolverem seu Mobral com aqueles
restos de gesso, deixados numa ultima reforma, ao invés daquele efeitinho
manjado de sangue, típicos das adaptações do livro do Stephen King, mas algumas
almas preferiam brincadeiras escandalosas, e simulações de filmes de terror!Ninguém
é perfeito, mesmo depois de morto!
Agora restava esperar aquela temporada passar. Se ficassem
caladinhos por mais algumas semanas, acabariam por fazer o pessoal desacreditar
dessa besteira de fantasmas, desestimular esse turismo invasivo, e encerrar
esses clichês de estórias de casas assombradas.
Anderson Dias Cardoso.
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