Era mascate recém chegado na cidadezinha; caminhando com
seus pacientes passinhos e voz rouca e pausada, oferecendo um mundo de
novidades através da estreiteza de suas ruas não planejadas.
Logo que uma curiosa comprou, fofocou satisfeita à outra, e,
mesmo desconfiados, um à um, os citadinos se disporam a adquirir alguma das
mercadorias, das quais todos diziam ser muito em conta!
Na considerável fila para a aquisição, às costas dos
compradores o que se via era a rápida escolha, uma diminuta e discreta conversa
entre quem comprava e vendia, e um partir satisfeito do primeiro, abraçado ao
seu embrulho de tamanho variável.
-Foi o melhor negócio da minha vida- diziam os
entusiasmados!
-Ele nos vende por preço simbólico, só com a condição de que
as peças desapareceriam assim que deixássemos de nos interessar!
E assim eles compravam, e compravam; até tornar o carrinho
de tração humana em pequena lojinha; em loja de fachada respeitável; e até
dizimar toda concorrência local, a tornando uma construção monstro, adornada de
vitrines sedutoras, iluminação com cores convidativas e propaganda apelativa
para quem se dispusesse a adquirir o luxo por uns poucos dobrões!
E o contrato oral, ao qual aceitaram em suas compras se
cumpria com velocidade vertiginosa devido à compulsão consumista, e o interesse
insaciável pelo novo; e tudo desaparecia misteriosamente dos seus lugares assim
que eram esquecidas e trocadas por outro recente desejo!
Sempre havia atualizações interessantes à serem adquiridas,
ou modinhas totalmente novas que deviam ser desfiladas sob olhares ressentidos
por não terem sido os primeiros à possuir...
Aos falidos lojistas o que restou foi migrar para o comércio
alimentício, e de serviços, mas logo que já não havia meio de se expandir, a
grande loja cobiçou, e tomou cada oportunidade de emprego possível; contratando
por salários descentes aos quais ofereciam seus serviços...
Mas nunca houve lugar para tantos empregados, e um movimento
de restantes miseráveis revoltosos tratou vandalizar a empresa usurpadora, e dar
uma lição no estrangeiro.
Mas quando os encapotados venceram o rigoroso inverno e
chegaram com seus porretes e tochas para vindicar sua economia, a loja era um
esqueleto risonho de deboche.
E a sensação de vazio e insatisfação e perda foi ainda maior
no peito!
Aquela cidade não sobreviveria muitos dias...
Anderson Dias Cardoso.
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