Mas a novidade sobrenatural que o conduziu à riqueza e notoriedade
furtou com toda aquela previsibilidade o prazer da surpresa e fatalidade ao
longo dos dias de seus ofícios.
Então o vidente, entristecido surtou em esquizofrenia.
A família inicialmente omitiu o tratamento, pois a alta
conta de seus patrícios bem poderia ser ofuscada pela notícia da loucura
parental do que antes havia sido consultor e conselheiro bem remunerado de
tantos notáveis!
O homem do dom, desgostoso de sua identidade oracular, atentou
contra sua própria vida tantas vezes que o dispêndio de fortunas em cuidadores
e tratamentos não ortodoxos se fizeram necessários para tentar ascender os
ânimos e reavivar suas fagulhas divinatórias!
À despeito dos esforços os responsáveis se viram diante de
uma carcaça vazia de vontade, e aquela alma perambulava, com seus olhos vagos e
trejeitos fantasmagóricos, insuportáveis aos reminiscentes dos dias sãos...
A internação foi inevitável e a transferência aliviou muito
aos que não partiram.
Já no limiar do novo abrigo o homem abandonado sorveu a
pouca estranheza do edifício e conteúdo, e lá sentiu que seus povos se
revolviam dentro de suas órbitas relacionais, interferindo, se expandindo e
contraindo emocionalmente de acordo com os outros padrões de lucidez e loucura
à disposição dos contatos.
Uma vez liberto de todas as convenções sociais, e diante da
aleatoriedade comportamental dos parceiros de psicose se maravilhou com as
inquietações dos possíveis futuros mutantes de tais loucos!
E foi quando um dos furtivos fugiu ao padrão linear de
destino e o abraçou solidário que notou que às vezes o futuro não faz qualquer
sentido, e o mais novo enfermo local sorriu deliciosamente após tantos dias!
Anderson Dias Cardoso.
Um comentário:
Bela crônica.
muito interessante e de uma leitura cativante.
Curte o som?
http://mmelometallica.blogspot.com.br/2012/12/the-unforgiven.html
Postar um comentário