Andava avesso à vida, como aquele que encara as felicidades
como discretas sereias boêmias.
Fora marido que já passara por atraiçoeiramento da mulher de
seus votos; já perdera todos amigos que valiam lhe a pena e um emprego
ruinzinho, mas de rendimentos que lhe garantiam os poucos mimos que sua rigidez
aquisitiva permitia!
Desacreditara à certa altura de toda palavra positiva que
recebera; as negativas sempre lhe pareciam mais sinceras, e quando a mãe
tentava o animar, repetindo o prato favorito ele pensava em qual das milhares
de degustações aquilo tudo havia deixado de fazer sentido!
Sua cadela cega fora conforto até que a senilidade roubou
lhe a razão canina, e ele agora era só mais um outro à quem dispensava latidos
nervosos.
A diabetes o permitiam um vago visual, proibia os outros
pratos desejáveis e o presenteara com a impotência, e se feria com qualquer
gravidade, a danada o permitia sangrar eternamente!
Quando aquele dia decidiu recolher sua luz pés doíam de
andanças, em confortáveis palmilhas ortopédicas, mas não desejou retornar ao
velho pouso, então o tropeção o lançou na imunda poça do desrespeito
político...
Debateu-se um pouco, mas resolveu deixar-se inundar so pulmão
"efisemados”, pois pequenas tragédias se afogam em dois dedos d’água.
Anderson Dias Cardoso.
Um comentário:
Este foi bem estranho, mas gostei.
Beijinhos
Postar um comentário