Só sabiam se chamar Meiyng, e de suas vendas de tênis contrabandeado.
Falava pouco o português, e quando lhe confiscaram o que havia de a manter viveu em miséria, estendendo a mão à quem passasse para recolher um pouco de bondade e comer rasos pratos de sobras.
Às vezes preparava lamen em latas de aveia, e assim foi até encontrar no lixo a panela de alumínio batido.
Dinheiro era sagrado, escondido sob a palmilha do mocassim, incomodando os passos, mas logo que recebia moedas as trocava por notas e o andar parecia mais leve.
Ela estava ali, sempre sozinha em seu canto sujo, esmolando sob olhares de deboche e piedade.
O que mais incomodava aos passantes era este seu abandono; mas quando o sapato se encheu de riquezas foi ao centro e voltou às ruas trazendo um cão!
A dobradura canina, raça Sharpei, veio ornada de laços de fita e desfilava como peça estranha ao lado da esfarrapada chinesa.
-Chuang Mu!-Ela chamava, e a bola enrugada saltitava para receber suas carícias, e se a dona se levantava ela a seguia em sua direção e ofício.
Não houve que não oferecesse mimos à cadela, e ela cresceu recebendo biscoitos e quitandas, e quando num inverno Meiyng se lembrou de casa, a carne da companheira cozia na panela amassada.
A chinesa calejada quase esquecera os sabores da sua saudosa nação...
Anderson Dias Cardoso.
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