Eram imagens idênticas de si até que o tempo modelou seios e alongou as mechas de An-Haman, e teceu pelos no queixo de seu irmão, dos quais ele trançou como um feixe de trigo.
Dos excessos do corpo lhes incomodavam o peso das madeixas; que estendiam se período solar e meio em seu comprimento, enquanto a barba de Pedil descia e serpenteava seu arranjo como criatura delicada e resplandecente de igual comprimento; e quando as unhas se encurvavam em seus dedos decidiam pelo corte e em juntá-las aos fios aparados e os amontoavam e ligavam por saliva, construindo mundos.
Tão imenso conjunto de formas que o Vazio se fartou de presenças, e o Silêncio havia sido recortado pelos gritos de júbilo dos irmãos que cirandavam enquanto criavam planetas e seus sistemas.
-Devem se expandir para além deste lugar, preencher e substituir esta realidade para que sejam possíveis outros deuses, e quando o Vácuo der lugar à Plenitude e o Silêncio se tornar em Cacofonia, estes se unirão a engendrar um outro casal que vos equivalha, então, se unirão à eles para gerar o restante dos seres - Disseram os pais- Devem esperar por seus pares!
E então deixaram a presença destes e se foram com suas cantigas, rodas, o produto de seus corpos se distanciando em constelações e astros que lhes ficavam às costas.
Na empreita, aqueciam alguma formação construída, com o calor de seus corpos até que se incendiasse e a abandonando tinham-na como luzeiro e punham-se então a formar à sua volta um mundo –abrigo ao qual voltavam após construir galáxias.
Num dos lares fizeram nascer uma árvore de todos os frutos, e sua folhagem era tão densa que era noite sob sua sombra; e naquele lugar se estabeleceram por tantos ciclos quantos já haviam vivido.
Os pais haviam se perdido na distância, e em sua solidão se notaram como corpos atraentes e espíritos gêmeos; voltando de uma nebulosa não condensada se encontraram como amantes sob a proteção do véu de folhas.
Amaram-se ali outras vezes, e a árvore invulgar começou a estender raízes e galhos e derramar seus frutos, que agora se transformavam em cópias de estrelas e planetas até que não pudessem enxergar onde agora alcançavam.
Os pais sofreram saudades, e vendo que mesmo os gritos de Silêncio não alcançavam os filhos tomaram de sua escuridão para formar corvos, dos quais foram libertos para que buscassem os objetos de afeto.
Houveram milhões de asas, e o crocitar de tantas aves rompeu de vez a monotonia da criação intermitente.
De todos os curiosos foi Drognew a avistar a mulher loura em trabalho de parto, e constatar os cuidados de seu igual serem assomados por beijos de consolo às penas, nos lábios fugidos de cor.
Voltou, o corvo, em asa ligeira aos ombros de seus donos, e ao contar que a mulher gerara de seu irmão se enfureceram e consumiram os adornos construídos em volta, e os corvos revoavam todos em redor dos gigantes primordiais.
-Isto não devia ter sido...
-Desrespeitaram o conselho...
-Devem nos entregar sua semente, ou, que nunca voltem à nossa presença!
O caminho foi desenvolvido em meio tempo, e todos os corvos logo cobriam a extensão da imensa árvore onde o casal já abraçava seus filhos.
-As crianças foram amaldiçoadas, devem ser entregues à destruição!Crock!
Um cor ensurdecedor respondeu à ultima palavra do corvo.
-Eles são fruto de amor- Se lamentou Pedil.
-Desobediência!!!Crock!
E todos os outros responderam crock!
-Digam que voltarão assim que as crianças se desapeguem do seio e minha dor será menor - Implorou a mãe.
E então foram deixados pelos mensageiros.
Fugiram para sempre da presença dos pais, e as crianças cresceram até à razão e foram escondidos em uma terra quando os corvos foram enviados à espiar e devorar a família.
O sangue de Pedil e Na-Haman salpicou o horizonte, até que seus pais teouxeram chuva para lavar o espaço, e foi assim desde então, como prévias das tempestades.
Estes irmãos também se amaram e, pela maldição de seus antepassados lhes nasceram gêmeos opostos, aprisionados em um mesmo corpo, e houve maldade e bondade em cada qual que nascia desde então... E esta é nossa descendência.
A voz da velha soava forte, acompanhada do crepitar da grande fogueira.
Todos guardavam um silêncio respeitoso e faziam suas preces em repúdio à Festa da Fartura.
-Voltemo-nos aos nossos pais, dos quais se sacrificarão em nosso favor- E outra voz a interrompeu com força dobrada.
-E eu achava que tinha ido a profetizar ao norte... Queimem à todos!
O Apóstata dava suas costas enquanto seus soldados lançavam uma multidão ao fogo.
Continua...
Anderson Dias Cardoso.
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