O relógio havia avançado o suficiente para desesperar o coração de mãe, então contatou todos os amigos e ligou para a escola já vazia, e aumentou um pouco mais a angústia.
Visitou diversas vezes as janelas, depois, os portões.
Acendeu cigarros, velas, fez promessas, mas do garoto, nem rastro!
Sentou-se, levantou, consultou o relógio e a memória, mas nada se resolvia e o dia se encompridava numa agonia crescente.
Chamou a mãe, as três irmãs e a cunhada. O marido; aquele traste, não procuraria nada além de uma garrafa de aguardente e muito repouso.
Dividiram o bairro em quadras e encarregaram-nas de arranjar outros buscadores para o filho perdido.
Chamaram a policia, mas esta ainda era mais indolente que o pai do garoto e logo perderam a paciência ao preencher formulários e fornecer respostas e suposições:
-Nos dêem seus distintivos que resolvemos melhor que vocês!-A irritação da expectativa e os volumosos calos já lhas haviam consumido as paciências.
O tempo gasto foi bem menor do que a sensação de sua passagem, e seus corpos obesos pediram arrego com pouco mais de uma hora de procura, e a equipe se desfez e a mãe voltou para casa para chorar e esperar por uma sorte melhor.
Ela o esperou no sofá, sem forças para qualquer esforço. E o auge de sua tribulação veio quando a TV anunciou a morte de um garoto de onze anos, naquela região.
Ela ouviu que haviam sido quatro facadas e soluçou alto, desistiu de suas esperanças e se desfez numa letargia comovente.
A porta da cozinha se abriu timidamente, e ao verificar quem seria o invasor se deparou com um sorriso desconfiado de uma criança um pouco suja.
Ela o esmagou em um abraço que media em violência o tamanho de sua felicidade!
Ele disse que se demorou em alguma vadiagem com seu melhor amigo, mas ela agradecia sem perceber à Deus que não tivesse sido ele o garoto morto e o fez prometer que nunca mais demoraria sem avisar.
Ele disse que sim.
Ela voltou-se aos seus afazeres e ele para seu quarto, ela terminava o almoço e ele guardava a faca manchada embaixo de seu colchão.
Anderson Dias Cardoso.
4 comentários:
Nossa! Que texto comovente e real.Tive que chamar meu filho para ouví-lo.Li para ele e ele também se surpreendeu com o final assim, como eu. Aliás, é uma característica sua, surpreender no final. Amei!
As mães realmente sempre esperam que seus filhos estejam bem, que façam o bem e nunca imaginam ou acreditam que eles, anjos que são, possam roubar os sonhos e a esperança de outra mãe!!!
obrigada pela visita e comentários nos meus humildes textos, viu? Aprecio demais! bjos...até mais!
Excelente texto, gostei da reviravolta!
Uma boa semana, e nos presenteie cada vez mais com seus textos!
Nossa Parabéns!
Texto que nos faz refletir, sobre este mundo de hoje e nosso egocentrismo.
Bom dia!
eita falta que faiz um bão texto gente...bem,...
Tenso, extremamente estupefato com o fato...(se escreves sobre o real, isso foi real?)
Excelente texto como sempre, e tou começando a gostar inda mais de seus escritos, que, estão mais sombrios, hehe, adoro esse lado negro de escrever preto...kkk(ignore0
até mais ler...
Next....
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