quinta-feira, 7 de abril de 2011

O Asco.


A ala mais visível do restaurante burguês era povoada por uns mesmos rostos abastados.
Mesas próximas a rua os expunham  como uma vitrine de vaidades muito apreciada, e os sorrisos e maneirismos afetados  eram o prato dos adolescentes!
Conversas, chopes, e alegria! O cardápio  com novidades de carnes e vinhos  e os pedidos forraram a mesa de beleza e aromas!
Andrajosos às vezes  também ousavam perambular por aqueles espaços a  remexer os lixos, esmolar e ofender o bom gosto da nobre freguesia.
A figura era esquelética. Cabelos desgrenhados e vestes rotas e imundas compunham uma imagem de miséria. Movia-se lenta, e sua tosse chamava atenção, e selecionando restos dignos os engolia como paliativo para uma imensa fome. 
Notando-a a conversa animada dos filhos da fortuna se tornou em sussurro;  convergiram  para aquele teatro de miséria e viram-na como contraste à suas  farturas...
Eles zombaram! 
A velha tossia alto... E eles riam!
Ela abaixou-se e abriu um embrulho, e mastigou mais alguma coisa, e eles lha ergueram um ruidoso brinde! Comiam bocados de carne e deixavam seus sucos escorrerem animalescamente das bocas cheias, e o gosto e a fome lhes foi um prazer a ser exposto, e a cada bocado mais aumentava a fome!
Eles continuavam a afrontá-la, e num início de irritação ela agitou a cabeleira, e atirou restos às mesas do escárnio e eles riram mais dos braços finos que não lhes alcançava com sua pouca potência!
Ela tossiu, praguejou e eles erguiam os pratos cheios!
Ela xingou... Xingou...Xingou; e os pulmões pediram clemência, e vendo a derrota da miserável eles gargalharam! Ela; por fim lançou um olhar malicioso e sorriu discretamente!
Um acesso de tosse ainda mais violento, e o peito expectorou, e a velha gargalhou, devolvendo lhes o  olhar de escárnio e cuspiu uma imensa massa de muco ensangüentado!
Os olhos orgulhosos  se desviaram enojadíssimos,  e os estômagos se revoltaram e aquele almoço que profanava as dignidades  se findou abruptamente!
A imagem se fixou na retina, e a repulsa à alma!
Cada qual pagou sua conta, e sem se despedir saíram para nunca mais voltar!

Anderson Dias Cardoso. 

3 comentários:

Vampira Dea disse...

Revoltante a crueldade e futilidade humana, tripudiam em cima da miséria alheia como se ela um dia não pudesse chegar a todos.
convido vc a entrar nesse blog é muito legal:http://minicontosperversos.blogspot.com/2011/04/desabrocha-florzinha.html
esse continho é meu mas vasculha lá que tem coisa bem legal
beijos

Lorranny Berto disse...

Por que vc se arrisca tanto? De onde vem essa coragem, essa sede de mudança? É natural? Não é comum o que vc diz, nem o modo como vc diz e isso é demais. É louvável.
Além, é claro, da sua imaginação que é extraterrena. hauha

Parabéns. Te admiro!
E outra coisa, nao sei se vc vê, mas eu respondo seus comentários.

Abraço

OceanoAzul.Sonhos disse...

Repulsante sim, o comportamento dos nobres, abastados que sem um sombro de solidariedade expõem a sua vida enganosa, como se fossem imortais.
Parabéns pela história, muito semelhante a uma qualquer realidade, não tão incomum quanto se imagina.
abraço
oa.s

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...