O câmera gemia baixo o riso, a imagem tremia um pouco e o repórter assumia o ar grave característico do ofício e uma família típica nordestina tentava se posicionar no melhor enquadramento possível.
Armado o cenário o patriarca dá um passo à frente, a pedido do homem engravatado e a imagem fechou detalhando aquela curiosa criatura. Marcou a camisa xadrez azul entreaberta e a pele morena de poucos pelos, subiu pelo rosto largo e já meio enrugado pelo trabalho eficiente do sol, fixou se um pouco no bigode espesso que tentava esconder a boca falta de dentes, passeou por olhos bem cansados e terminou no surrado boné que estampava propaganda política.
Descobriu se logo que seu nome era Cirilo, e reivindicava a si e sua família como uma extravagante família extraterrena!
O homem engravatado então pôs se a passear pela sua história e descobriu uma longa genealogia localizada especificamente naquela terra, dos quais alguns dos remanescentes; seus avós paternos haviam morrido anos atrás; em dias severíssimos.
-Vô Raimundo morreu de fome, vó Tônha morreu de tristeza!
A família agora contava seis pessoas: Ele, Miriã, e os quatro meninos Raimundo, Batista, Américo e o bebê Jurandir.
Moravam na casinha de adobro, tinham umas seis cabras e estavam cadastrados em planos de assistência do Governo!Tudo muito absurdo!
Da história família passou a questionar dos métodos de locomoção utilizados na viagem interplanetária, da existência de uma nave ou algo que comprovasse a verdade que teimavam em confirmar, e o homenzinho sacudia negativamente e acusava os jagunços nomeados “Calangos Secos” de terem surrupiado o módulo de sobrevivência que os trouxe até a terra.
-Roubaram tudinho os cabras!- Dizia muito indignado. - Acho que trocaram por carne seca numa vila acolá...
Interessado pela história, agora como um assunto cômico sentiu se simpatizar pelo homem e quis saber sobre o quotidiano; quis continuar o chiste, e soube que gostavam muito de novelas, séries americanas e filmes do Mazzaropi!
Tinham um fusca 79, o qual servia de galinheiro para umas poucas galinhas; a mãe, de braços muito finos escovava os longos cabelos três vezes ao dia, e todos os filhos esperavam se tornar jogadores de tênis, mesmo sem quadra ou equipamentos por perto!Coisas da admiração!
Cirilo os convidou para um café e lhes ofereceu um pedaço farto de queijo de cabra, que foi comido gostosamente, e mostrou-lhes a casa simples e os brinquedos das crianças, e se encaminhando para o fim da entrevista lhe foi perguntado por que tinha chamado a imprensa àquele lugar, e ele disse com voz firme que queria pedir ajuda ao governo para a construção de uma nave que os conduzisse ao seu planeta natal!
O repórter abriu espaço para que o homem fizesse o apelo, e até sentiu um pouco de pena daquela família, que parecia ter sido transtornada pelo clima quente.
A petição simplória reafirmava a confiança no governo, agradecia pela já iniciada transposição do São Francisco, e pedia a construção da tal nave, pois eles sentiam muita falta de seu planeta...
A câmera foi desligada, e numa rápida conversa dos envolvidos e cumprimentos sinceros a equipe da TV se despediu desejando muita sorte aos que ficavam!
Quando o pó do furgão se desfez no horizonte o homenzinho se abraçou com sua mulher, e dessa e seus filhos se formaram uma corrente humana, e Cirilo disse com voz desanimada:
-Eles não acreditaram ni nóis... Aposto que se fosse uma famía de ET americano eles ia levar a sério!
Andeson Dias Cardoso.
Andeson Dias Cardoso.
2 comentários:
Que historias explendidas encontramos aqui, com pormenores que nos fazem entrar para a acção.
Continua!!!!
Abraço
OA.S
Gostei.
Um texto de cunho regionalístico, mas, sobretudo, crítico: revela a adoração dos brasileiros (quiçá do mundo) aos americanos.
Abraços.
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