Falavam sempre de Inês, mal é claro. E ainda que nunca a
conhecera, ou soubera alguma coisa de outra pessoa senão sua crítica e inimiga
mortal, também a odiava como a poucas de suas inimizades!
Se antipatizava com
sua índole preguiçosa, conformada e a voz lamentosa que se desculpava de todas
as coisas à todas pessoas, porém, o pior era sua feiúra externa!
Aquele corpo obeso e atarracado, cabelos crespos, olhos embaciados...
Tudo tão inaceitável num mundo onde, com modestas parcelas, a nova medicina
molecular lhe permitiria se transformar em outra pessoa!
E a coisa era assim,
naquela rotina de se odiar a mulherzinha fraca e feia, e se ter matéria para
longas e divertidas conversas maldosas... Até que um dia o documento revirado
no fundo da bolsa veio à tona!Foi uma grande surpresa descobrir que Inês esteve
ali todo o tempo!
Anderson Dias Cardoso.
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