Ao invés de Kafka, ele era o inseto que se tornava
humano!Deixava família volumosa, a pequenês discreta, a estabilidade das tantas
patas, a carapaça e sistema adaptados às condições climáticas, venenos,
radiações, poluição...
O que temia era a assepsia!A falta de detritos espalhados, o
escuro, a umidade, os aromas peculiares que se volatilizavam dos sacos de lixo,
animaizinhos mortos, e marmitas desleixadamente esquecidas depois de uma
chegada e partida apressada para algum passeio demorado!
Logo eram só quatro membros!Desajeitados, lentos, lívidos...
Mas isto foi só o começo!
Roupas, comprovação de existência física, tantas certidões, impostos.
O cárcere de emprego e horários, conversas, uma forma de se vestir e se portar
imposta, sem qualquer finalidade senão a
de impressionar, mas que nada tem à ver com o acasalamento ou escolha de
melhores genes , já que na maioria não são mais inteligentes os que ostentam
suas respostas, não são mais ricos os que se vestem com maior esmero, não são
os mais fortes os que aparentam maiores músculos, nem mais éticos seus juízes!
Tudo é marcado de um ritualismo social estranho, uma
tentativa de exposição de si, e uma depreciação do próximo; mas tudo com muita
polidez.
Conversas suaves, desnecessárias, cheias de adjetivos,
pronomes pessoais, sorrisos forçados... Ouvi dizer que chamam isso de
hipocrisia, mas ainda não entendo muito dessas intrigas de gente humana!
Agora se me dão licença, aquele lixo logo ali está me
chamando!Adoro sobras meio apodrecidas!
Anderson Dias Cardoso.
Um comentário:
Boa releitura da crônica de Luís Fernando Veríssimo! Acredito que o texto mais curto e objetivo passe a mensagem com mais eficácia, apesar do fator entretenimento ser menor.
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