O barraco distante com uma única e esburacada via de acesso,
afogado em um matagal acinzentado, mas com algumas mangueiras, que ao seu tempo
pendiam pesadas de frutas seus infinitos galhos.
Diziam pra nunca se comer delas; eram fertilizadas por
morte!
Havia cisma em deixar o pequeno, mas o salário de passadeira
era o complemento da responsabilidade paterna que a remunerava pelo já comum
epíteto de mãe solteira!
A criança se virava bem com os pacotes de biscoito, e os
saquinhos de refresco pré adoçados, mas o que cobiçava mesmo eram as frutas
rosadas que deixavam seu aroma doce ser soprado por qualquer brisa.
Então a criança arrastava a enferrujada cadeira de boteco, e
trepava-a para empurrar a janela.
Vez em quando havia ruídos de carro, gritos e algumas
pessoas dizendo palavras das quais a mãe o repreendia quando as repetia!
Logo, e quase sempre os homens que traziam os sons
carregavam estalinhos, soltavam alguns, mas nunca podia ver nada além aquelas
copas carregadas !
Vez em quando faziam uma fogueira de pneus, e uma fumaça
preta e densa dançava conforme o vento, de qualquer forma se esgueirando pelas
frestas e o obrigando a respirar através de uma toalha molhada.
Sempre haviam gritos!
Algumas vezes a curiosidade foi forte, e ele contrariou as
proibições da mãe, e partiu para ver o que acontecia... E recolher algumas
mangas!
E no chão sombreado do lugar encontrava vários ossinhos meio
queimados, às vezes um cheiro nauseabundo de animal morto!Mas ele se sentava à
recolher algumas pecinhas como souvenires enquanto lambuzava sua boca de fruta!
Já crescidinho descobriu o primeiro corpo. Estava inchado e,
meio carcomido por um exército de rebolantes larvas, e era assim como nos
filmes, menos quanto ao forte cheiro. Vomitou um pouco antes de capturar
algumas criaturinhas, e tentar as colocar em combate, como costumava a fazer
com formigas!
Aos dez freqüentava os lugares estratégicos, e a TV já lho
ensinara o que era execução.
Apostava consigo mesmo se o próximo seria tiro, pauladas,
incineração; e os aguardavam com a pueril ansiedade de sempre!
Quando um dia o descobriram, o ameaçaram, mas ele sempre
voltava à cena; e logo resolveram o permitir assistir como convidado!
Era tudo como na TV. Só que com mangas tudo era mais delicioso!
Anderson Dias Cardoso.
Um comentário:
E quantas crianças em nosso país assistem cenas assim? Acredito que muitas e acabam assimilando-as como algo natural!
Abraços, amigo! obrigada pelo comentário no meu humilde texto! Rsrs..pois é como vc observou: coração calmo, textos calmos! abraço!
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