sábado, 28 de dezembro de 2013

Beiço, Uma História Real.

Manquejava de uma perna, um defeito herdado e compartilhado por irmão e irmã; vestia à moda meio grunge-punk, com jaqueta camuflada, camiseta preta de banda e calça rasgada estrategicamente nos joelhos. O acompanhava a figura magra e bem semelhante de seu assecla.
Ignoro as anteriores conversas, e, passado tanto tempo de que ouvi a seguinte me falham algumas lembranças; mas sei que passeavam por algum ajuntamento, e participavam de qualquer show gratuito quando a necessidade fez ser interrompida a conversa.
Ele abordou um dos passantes:
-E aí!
-E aí!-Me contaram que o garoto se vestia bem, e lhes pareceu simpático!
-Meu nome é Beiço, e não queria te incomodar, mas... Sabe, eu esqueci minha carteira em casa, e tô morrendo de vontade de um pito!Cê não tem um real aí pra me emprestar pra eu comprar um cigarro picado não?
O garoto respondeu prontamente vasculhando os bolsos, e, tirando a carteira grossa verificou suas notas para lhe entregar o pedido.
-Olha, eu só tenho dez reais aqui...
-Pode deixar mermão, eu vou ali no boteco, compro o pito e te trago o troco!
-Tudo bem!-Confirmou o solidário com um sorriso- Eu vou ficar por aqui mesmo, tô vendo se encontro algum dos meus amigos...
A história se seguiu mais ou menos como na conversa, e eles logo saiam da vendinha por uma rota um pouco diferente da anunciada, com um maço de cigarros e uma lata de cerveja em mãos.
-Ué “Beiço”, cê não vai lá devolver o troco do moleque não?Ele ta esperando!O cara foi mó de boa contigo e você vai dar o tombo nele?
-Na verdade eu to fazendo um grande favor pra ele não devolvendo essa grana, Ronaldo!Tô ensinando que não se deve confiar em ninguém!



Anderson Dias Cardoso.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Bang!



Meio maluco, mas ainda assim, um ótimo mecânico!Diziam que reconhecia defeitos automotivos pela ressonância do motor, toque à boca do escapamento, cheiro e gosto dos fluídos. Todo o processo parecia místico, ou instintivo, mas era assegurado por uma garantia assinada de seis meses!
O homem era barateiro, honesto, simpático; o que lhe confirmava a oficina lotada, além de ofertas de emprego nas autorizadas de renome. Era meio triste que logo após seu expediente este cerrasse as portas e se confinasse para desenvolver suas máquinas do tempo, moto perpétuo, desintegradores, bombas de antimatéria , vórtices de teletransporte...
As pessoas o questionavam, e ele confirmava que alguns aparatos já se encontravam em processo de requisição de patente, outros, ainda necessitavam alguns acertos, e alguns... Bem, ele havia dado como empresa impossível!
As pessoas zombavam nas entrelinhas, puxando-lhe a língua para lhe arrancar discretamente mais algum desvario, pois não havia profissional tão competente ou justo, que lhes coubesse no bolso.
Um dia, porém, algum desafeto o desafiou, e ele, meio sem jeito, apontou o carro que se movia na velocidade da luz!
Eles pediram para dar uma volta, e ele disse que, desde que não tocassem no botão vermelho tudo iria bem.
“Ainda não desenvolvi um sistema de freios, e orientação seguro!”
“Então o passeio será num comum Mustang 79?”
“Vocês ficarão deliciados com a maciez do motor!” E eles partiram sorridentes para a treta!
Andaram alguns quarteirões, e discutiam entre si uma reta decente para experimentar o motor, concordaram que havia uma rodovia federal próxima.
“A velocidade da luz... Qual é a velocidade mesmo?”- A pergunta parecia sincera, mas todos riram.
“299 792 458 metros por segundo...”-Sorriu a inteligente resposta.
“E, tudo isso só apertando aquele botão?”-E o homem avançou contra o painel, enquanto outros dois seguravam o mecânico, e controlavam o percurso.
Havia um caminhão no horizonte, em sua direção; e em segundos depois toda uma cidade foi varrida do mapa.
As autoridades cogitaram um ataque terrorista, mas não havia qualquer testemunha!




Anderson Dias Cardoso.

domingo, 15 de dezembro de 2013

O Pobre Frankenstein Suburbano!


Já havia lido o livro, meditado um pouco e decidido que devia palmilhar aqueles mesmos passos; no entanto, ninguém conhecia na área de medicina, ou mesmo traficantes de corpos ou vendedores de peças humanas à granel!
Consultou a sapientíssima internet, e ela o alertou de que havia chegado à cidade um decadente circo boliviano. Arrumou-se, tomou a caixa com suas economias, um táxi e logo estava às portas da lona!
Bom negociador que era perguntou as renda das últimas apresentações, calculou as despesas das viagens, consumo e imprevistos da trupe e estimou que a falência batia às portas.
O dono relutou, chamou seu conselho, mas juntos perceberam que “o fim era inexorável”.
O homem, então, partiu dali realizado; táxi cheio de anões em preço promocional!
De início, a idéia era dividir os pequenos, e os rearranjar com partes diversas em novos corpinhos mais ou menos harmônicos, mas o caso era que não possuía conhecimentos de corte, além de se lembrar um péssimo resolvedor de quebra-cabeças!
Perderam-se muitos nervos, cartilagens foram danificadas, tecidos esfolados, e, no fim, só conseguiu um encaixe mais ou menos decente para um conjunto!
Apressou-se em cozer, com os mais delicados pontos possíveis a um curioso, as partezinhas daquele novo serzinho.
O carregou com cuidado, deitou-o sobre o tampo da mesa que imitava granito; mediu as extremidades e, contrafeito, teve certeza que aquele homenzinho desbalanceado no mínimo, manquejaria!
“Tudo bem”, pensou consigo, “existem muitas boas marcas ortopédicas no mercado hoje em dia”.
Quanto ao tamanho, estava bem satisfeito! Era modesto, e agora, desconjuntado, certamente não repetiria o terror e violência do monstro original... Se bem que tomara emprestado um 22, para se garantir de qualquer possível eventualidade!
Desencapou então, com a faca de esquartejar, o fio da extensão. Tomou o rolo de esparadrapo para fixar o cobre sobre as têmporazinhas raspadas.
Tudo finalizado, ele se moveu para trás da pesada TV de tubo, e, desemaranhando uma porção de fios encontrou uma única vaga no “benjamim”.
Plugou-o, e logo corria para ver se o corpinho tremelicaria e o surpreenderia com o salto da vida. Já havia, inclusive, ensaiado a frase clássica para comemorar sua engenhosidade; mas antes disso o que o espantou foi a explosão, acompanhada por um característico cheiro de queimado! A casa era ponta de rede, e sempre havia desses problemas de variação de corrente:
”Devia ter ligado um no-break… Ao menos um estabilizador! Um fuzível provavelmente daria conta do recado”, analisou tardiamente.
Sentiu-se frustrado, e um pouco faminto. Despiu o avental plástico que trajava e calçou as havaianas para visitar a mais próxima panificadora. Necessitava urgentemente de um pão na chapa, e uma xícara de achocolatado.
Pensava, no caminho se havia alguma linha de crédito do governo para lhe financiar  outra meia dúzia de anões, e uma aparelhagem mais moderna.
Daí, finalmente construiria seu tão sonhado golen!


Anderson Dias Cardoso.

domingo, 24 de novembro de 2013

Um Resto De Mundo.Parte 3.



Ia consultando os avisos fosforescentes, mas estes indicavam que o lugar ainda lhe custaria vários minutos naquele caminhar torto de álcool, e pesado de cansaço, foi quando ouviu atrás de si passos corridos e até tropeçados que lhe pareceram ser de outra criança.
Segurou no bolso o estilete e prendeu o fôlego  pensando tensamente que, se atacado, qual lugar devia tentar ferir pra depois arriscar um pique.
-Espere!-Pelo tom, era a mulher do bar; continuou apertando o instrumento na mão.
-Vai embora, ou eu chamo a polícia!                     
-Por favor, faça amor comigo!-A voz havia se modificado em um arranhar angustiado na garganta, e acompanhado por um leve avançar em direção da luz. Sua boca triturada, o nariz esmagado e as faces pintadas por diversos hematomas.
-Sai daqui vagabunda!-rosnou inclinando o corpo para adiante, ameaçando sacar algo do bolso.
-Eu faço barato, e o que você quiser... Por favor moço, eu preciso do dinheiro- ia tentando desnudar um seio flácido como desesperado artifício de sedução, mas ele a empurrou com toda força, e lhe exibiu a lâmina esperando a afastar definitivamente; mas ela havia batido  a cabeça na estrutura metálica; zonza e assustada tocava o sangue e o novo ferimento, soluçando mais alto aquele choro engasgado!
Ele havia partido e ela ainda não conseguira crédito para mais que uns poucos minutos de imersão!
Num instante havia sol, nuvens pascindo calmas o horizonte, a estrada de terra castanha que levava a casinha que cheirava a pão fresco!Ela subiu os três degraus da escadinha e ouviu a voz amorosa do pai, mas ainda não podia atender!

Correu para o banho, e à medida que a água quente lha avermelhava a pele, a esponja lhe arrancava as dolorosas crostas e o nauseante cheiro de sexo, ela sentia seus seios minguarem, seus pêlos sumirem foi quando abriu a porta para encontrar se com quem a esperava, e já nem mais era uma mulher!
Secou os pés ajustou o vestidinho de renda, sorriu com o canto são da boca e partiu ligeira para perto da lareira, para seu colo dileto!
-Oh!Minha pequena!Onde machucastes esta tua boquinha?-A voz do homem era grave e terna; na verdade lhe adoecia de amor ouvi-la, ainda que o rosto anuviado de sonho não a deixava enxergar seus olhos!
-E... Eu caí enquanto apanhava algumas frutas!-A voz vacilou aquela mentira. Não arriscava nada mais elaborado por medo que tantos detalhes lhe traíssem a dissimulação.
-Deixa eu te limpar!-Estendeu para a boquinha amassada um lenço cheirando lavanda e roçou o levemente sobre a ferida-Tens que tomar mais cuidado com tuas travessuras!
-Brincaste com os garotos da vizinha?
-Eles são meninos... Eu não gosto de meninos, eles sempre me machucam...
-Eu também sou um menino!-Sorriu comprimindo-a contra o peito, da forma como a costumava fazê-la  adormecer.
-Não... Você é só uma mentira a qual eu pago com meu corpo, e que me faz recordar um passado que acho que uma vez vivi, mas hoje em dia nem tenho mais tanta certeza...-falou naquela língua que inventara para si, e que era exercitada em voz baixa para que nunca percebessem o quanto era infeliz!
-Tua mãe está a assar um daqueles deliciosos pães, veja que ela passa pela porta da cozinha neste instante, e veste aquele avental florido que você elogiou outro dia!
 -Não!!!-A garotinha gritou- Eu diga pra ela ir embora daqui!Embora dessa casa!
-Por que não vai até a cozinha, vocês fazem as pazes e você aproveita a caminhada para me trazer uma xícara de café?
-Não!Não!Não!...............Ela não é mais minha mãe!E. Ela cheira legumes apodrecidos, faz caretas, fala de trás pra frente e anda com o quadril virado para as costas...Ela não é minha mãe!
-Ela só está tendo uma semana difícil!Olha ela ali!Está trazendo um pãozinho com uma barrinha de manteiga, e uma caneca bem grande de achocolatado!-E a sombra da mulher arrastava uns passos estranhos, de animal quebrado, e se aproximando de pai e filha notou um rosto torcido, a boca parecendo sempre dizer algo, com toda a extensão possível às palavras e olhos dançantes em suas órbitas.
-Diga um olá pra sua filhinha amada, meu amor!
-Uishhhhhhhhhshhsihauuuuuurrrr!
-Ahhhhhhhhh!Gritou a pequena, tentando se meter em alguma abertura da camisa do pai, ao tempo que as pernas chutavam convulsivamente os lados procurando  afastar a desagradável figura.
-Não se debata tanto, que assim não consigo segurar caneca e pão!E além do mais estás a ser mal educada com sua mãe que passou tanto tempo na cozinha pra preparar algo gostoso pra sua princesa!
A voz possuía lá suas qualidades persuasivas, a garota foi se desvirando de seu avesso físico-sentimental com as contorções semelhantes a um tímido pequeno verme, e logo se via sentada em uma posição comportada e submissa, com os olhos fixos nos pés dela, que apontavam uma posição impossível!
-Shiiiiiiiiaaaaaaaaaaauuuuuuuuuuuuuuuuunnnnnnnnn-aaaaammmmmmmmmu!- ousou encarar o rosto do monstro que lhe falava, e viu que a boca continuava aqueles movimentos caricatos de conversa, ao tempo que lhe parecia esboçar um sorriso vertical!Ela estendeu-lhe o pão, e a caneca, e, com a fome incomodando tanto o estômago resolveu tentar engolir algum bocado.
Apanhou-os, mastigou um pedaço com a dificuldade de quem estivera já alguns dias sem comer, mas a boca se encheu de vômito, enquanto os olhos se embaciavam pelas contrações do asco!
-Isso... Isso é carne crua!Carne crua... Saia daqui seu demônio!Eu odeio você!Eu odeio você!
-Calma minha filhinha!Isso é pão!É pão!Olhe!-E o homem rasgou um pedaço da massa branca ainda quente e o consumiu com um gole de leite e um sorriso conciliador.
-Saia daqui... Eu tenho medo dela, papai!Manda ela ir embora dessa casa!-Sem que a criança visse, o homem olhou ternamente para a criatura, e ela balançou sua cabeça virou-se e se afastou com aqueles mesmos passos tortos. Ninguém notou, que também chorava!
Ambos estreitaram um forte abraço, e, não sabia se por conta da lareira, ela suava profusamente; e pensava se daqui alguns minutos, quando seus créditos acabassem o SAC da divisão estatal de realidade virtual resolveria o tipo de reclamações que iria fazer!



Anderson Dias Cardoso.

sábado, 16 de novembro de 2013

Um Resto De Mundo.


 A iluminação do lugar era quase tão precária quanto a das ruas; mas ao contrário da desculpa de esta ser parte dos edifícios móveis, com todas suas diversidades de lâmpadas e espaços mal preenchidos pela logística maluca de uma sociedade orgânica, naquele lugar a realidade é que a cada foco deixava de funcionar significava para o místico proprietário que se adiantavam mais alguns instantes na contagem para o Juízo Final!
 Quando adentrou o lugar, como de costume consultou quantos corpos ocupavam aquele espaço. Contou o máximo de vinte , todas agregadas em pequenos grupos barulhentos , e sendo levemente desfiguradas pelos golpes luminosos de uma repetida novela doutrinadora da TV Estatal e nuvens sufocantes de tabaco.
Cumprimentou os que conhecia, perdeu alguns minutos detalhando a um colega de setor de como um novato havia sido mutilado ao o encontrarem vendendo alguns gramas de ouro no mercado negro, e logo que também saudou uma dívida de uma garrafa de aguardente a outro conhecido pode procurar sua cadeira de hábito.
Verificou todos os parafusos e estes continuavam firmes. Não era bom arriscar ter alguma alça solta já que às vezes algum embriagado escapava às vistas para fazer uma visitinha desconcertante a “Sala de Máquinas”, acordando as engrenagens do imenso edifício para uma caminhada desastrosa...Sempre havia algum ferido nessas ocasiões!
Perguntou pelo proprietário, se lembrando que o relógio era seu inimigo, indicaram um fliper no qual desperdiçava outra ficha e o gritou para que o viesse atender logo. O velhote resmungou um pouco, puxou o fio da máquina para que ninguém se aproveitasse do seu gasto, se enfiou atrás do balcão ajeitando as dobras do avental, o qual escondia uma ameaça em forma de piada. Sorriu amistoso.
-Um destilado!
-Claro!
-Quer que coloque essência de limão corante e gelo?
-Não, descobri ontem que é cancerígeno!
-Chumbo no ar, mercúrio nas águas, amianto nos túneis, transgênicos, plásticos, DDT... Nós já estamos condenados há muito tempo meu amigo!Não me admira que o governo esteja mandando todo mundo pra virtualidade pra evitar que percebamos que somos uma população cancerosa!Toma aí seu “refresco”; e trouxe um pouco mais de gelo e um copo de água. Pelas marcas de suor da sua camisa acho que logo você vai precisar de um soro!
-O pessoal que trabalha comigo anda reclamando muito desses calores... Talvez o lote de ração tenha vindo com sódio demais novamente!

-Mas não se envergonhe, suor é uma coisa natural!Sinta o aroma desse lugar!-Esticou o pescoço vincado e fingiu aspirar o ambiente-Vômito, fumaça, mau-hálito!Eu vivo eu um paraíso sensorial, mas esses filtros aéreos não me permitem essas pequenas alegrias!-o velho sorriu divertido de si mesmo.
Gosto disso!Dessa maravilhosa degradação que anda espreitando por ai, e tomando conta de tudo, como aquela vagabunda ali, que voltou aqui mesmo depois de eu ter lhe pedido pra deixar meus fregueses em paz... -A frase foi dita em meio à uma corrida meio desajeitada e furiosa e finalizada com um ou dois empurrões, socos, chutes e cuspidas naquela mulherzinha estranha que procurava sentar-se no colo de outro esfarrapado que esvaziava um copo.
-Ele não gosta de prostitutas- esclareceu seu vizinho de copo enquanto se contorcia todo para que o corpo do homem lhe impedisse a visão.
-Olha que saí do serviço pra me embriagar um pouco e eis que sou surpreendido por essa luta de titãs!-Este era um bigodudo ruivo com o rosto todo marcados de crostas mal saradas.
-Se a mulher resolver revidar eu aposto nela!-disse gargalhando- E que não saiba que eu disse isso ou me cobrará a cortesia do gelo e água que me trouxe!- e a essa altura todos concorriam para ver o embate!
-Mas é claro que ela não fará nada!Ela precisa de grana pra se conectar, e, depois que o governo percebeu que substituir os “bagulhos” por esses tais implantes neurológicos que criam um mundo inteiro dentro da tua cabeça, quem ainda vai correr o risco de se contaminar com um sexo barato, e cheio de frescuras moralistas se você pode se deitar com qualquer atriz dessas novelas estatais, e tudo isso acontecendo aqui?- O bigodudo, único restante dos tantos que mantinham aquela conversa vestia um sorriso cariado e apontava a cabeça miúda e vermelha-A prostituição natural faliu, à não ser por alguns desses bêbados que ainda não tiveram coragem de financiar seu implante!Quanto a essa safada, amanhã ela volta pra tentar de novo e poder se conectar por uma ou duas horas!
-Acho que o governo devia parar de subsidiar esses viciados!Ele tem abrigo garantido, comida e até a higiene que dispensam, enquanto tenho que sangrar minhas mãos e deformar minha coluna num imenso buraco para extrair minérios que vão parar em algum lugar que nem bem sei onde...
-Éden, El Dourado ou até Marte... -Disse o homem aumentando a voz e apontando a pequena multidão que acompanhavam o velhinho, que neste instante arrastava, com muito custo o corpo de rosto ensangüentado da mulher, atirando-o porta afora e descendo as grades de cromo para impedir novas investidas.
-Ele parece exausto!Mas olha aquela pose vitoriosa!Ha!Ha!Ha!
-Espero que não apareçam policias aqui antes do toque!Ainda tenho uns doze minutos antes de passar num caminhão armazém e pegar o que preciso para o resto da noite... Meu estômago ainda dói de fome!Mas, voltando aos palpites de destino pra tudo que andamos produzir, continuo achando conversa fiada!
-Tudo hoje em dia é conversa fiada!Ou você acredita no que aquela dona ali na TV está dizendo a respeito da chegada de outra cidade móvel lá pras bandas da Angola!Daí eles vem com aquela conversinha fiada de como isso vai ser bom pra economia daquele lugar miserável, e que vão civilizar ainda mais aquele lugar, mas a gente que isso é o velho papinho de colonizador... Eles vão arrancar todas as árvores, vão roubar o resto do ouro e do diamante, e vão trocar tudo isso por um passaporte pro “país das maravilhas”!
-Sabe o que mais!Eu nem to preocupado com essa merda toda!Se os boatos tão dizendo que tão evacuando o planeta, e que os da elite tão vivendo aqui no “físico”, com todo luxo que a gente anda produzindo e nos pagando com uma moeda que no futuro vai matar a gente de câncer na cabeça, ou vai nos transformar num bando de esquizofrênicos...  
-Inclusive eu vou me levantar agora e vou pra meu cubículo alugado, fazer meu loguin e gozar de tudo que me custaria alguns milhões, pelo modesto preço de um cansativo dia de serviço!
Ambos se riram, ele pagou sua conta e partiu para o veículo armazém.



Anderson Dias Cardoso.
Continua...
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...