Depois que descobrira, milagrosamente, a arte do vôo a
delicadeza de seus pezinhos nunca mais provaram soalho; e as perninhas, já
descarnadas pela negligência aos alimentos mirravam a cada dia um pouco mais!
Não haviam asas às costas que justificasse o alçar do corpo
miúdo, ou explicação para as concessões da gravidade à tão despretensiosa alma,
que desde o nascimento fora comprovada não ser anjo!
Se houve estranhamento inicial da parentada, foi pretexto
para supersticiosos benzimentos!
O vigário tentou beatificar a criança, a negativa dos pais
tornou-se em excomunhão, e ao povo leigo a criatura era fada; com todas as
manifestações do imaginário folclórico!
Logo que os rumores da criança volante acorreram das cercanias
os supersticiosos e seus incensários, e tomaram à despeito dos esforços dos
pais em proteger a criança que somente desejava voar!
A reação familiar denotava, aos imaginativos camponeses, a
intenção de resguardar a pequena divindade para um egoísta usufruto!
Então, os iracundos juntaram um corpo ao outro; esfolando-os
por querer impedir as honras do culto à pequena e tímida deusa!
A brutalidade aos genitores maculou-lhe a razão, e quando
planou eternamente a criatura sobre as orações, os seus trejeitos eram vazios,
suas profecias eram dúbias, e seu olhar catatônico...
Anderson Dias Cardoso.
2 comentários:
É por esse sentimento interesseiro, e por tantos rótulos que estamos fincados nessa terra crua, onde as pessoas ainda não evoluíram, não amadureceram. O Surreal é uma ótima escapatória. A maestria como você usa isso a seu favor é de uma maestria tão louvável que tudo que nada rasta para dizer, vc rouba as palavras dos leitores pq hipnotiza com essa mirabolância toda.
Excelente Anderson, Palmas...
Se não podemos ser sem sermos marcados, ou explorados ou vistos com indignação, que ao menos tenhamos propósitos.
Até mais ler.
Esse comentário foi da minha querida amiga Dea!Eu o apaguei por ser um idiota incompetente!
Achoque criamos, somente para termos o que destruir...
Linda imagem. Linda semana pra ocê
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